A decisão do prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (SD), de judicializar a derrubada de vetos pelos vereadores é vista no meio político como uma estratégia do gestor de retomar sua autonomia frente à administração da cidade. A gestão de Cruz é tida, inclusive por auxiliares e ex-auxiliares do Paço, como subserviente ao legislativo municipal. Na avaliação de especialistas, o prefeito sofreu uma espécie de “sequestro” político, que o impediu de realizar uma administração autônoma. A prova disso, dizem, é o grande número de trocas de auxiliares no primeiro e segundo escalões do Paço, que passam de uma centena em pouco mais de três anos.
Segundo notícia publicada pela Coluna Giro, do Jornal O Popular de hoje (14/05), a prefeitura protocolou ação direta de inconstitucionalidade junto ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) com o objetivo de derrubar 14 dispositivos do novo Código de Posturas, sancionado em dezembro de 2023. Coincidência ou não, a decisão de Cruz vem na esteira da disposição de disputar a reeleição e da mudança de postura observada depois da chegada do marqueteiro contratado para melhorar sua imagem junto ao eleitorado.
As dificuldades – vistas e muitas vezes não comentadas – que o prefeito de Goiânia enfrenta junto à Câmara Municipal não são de hoje, se iniciaram logo após o rompimento de Rogério Cruz com o grupo do MDB de Daniel Vilela, presidente da sigla e vice-governador de Goiás, ocorrida lá em abril de 2021. Com a saída dos emedebistas remanescentes do grupo de Maguito Vilela, que foi quem de fato venceu as eleições, Cruz foi obrigado a fazer concessões aos vereadores, a fim de consolidar sua base na Casa.
A pressão exercida pelos representantes do legislativo sobre a administração de Cruz, no entanto, levaram a uma diminuição da sua autonomia administrativa, e a cobrança por cargos foram se intensificando, o que acabou estabelecendo uma relação desequilibrada entre executivo e legislativo. Com isso, a gestão de Cruz foi ficando cada vez mais engessada.
A situação chegou a tal ponto que até o próprio secretário de Governo do Paço, o ex-deputado federal Jovair Arantes, denunciou o caso. Logo após reunião que ocorreu na Câmara Municipal, em março de 2023, Arantes disse à imprensa que a capital “estava tendo prefeito demais” e que a cidade não pode ter “várias prefeituras, prefeitinhos” no comando da gestão.
Incumbido de realizar um trabalho de resgate da imagem de Rogério Cruz, o marqueteiro político Jorcelino Braga foi outro que denunciou os feudos que se estabeleceram na atual gestão da prefeitura de Goiânia. Braga reforçou o que já tinha dito Jovair. Segundo ele, erros da gestão e do próprio Cruz, que teria acreditado no compromisso firmado com vereadores, permitiram a criação de verdadeiros feudos dentro do Paço, o que acabou comprometendo a administração municipal como um todo.
Com a decisão de confrontar a decisão dos vereadores na justiça, Rogério Cruz ensaia estabelecer uma nova relação com o legislativo municipal, ainda que, na visão de analistas, isso ocorra muito tarde. A avaliação é que não haveria mais tempo para o prefeito resgatar a sua própria gestão e, com isso, dar uma resposta satisfatória ao eleitorado goianiense. De todo modo, afirmam, Rogério Cruz, mesmo fracassando no projeto de reeleição, pode ajudar a ressignificar a política municipal, já que a mesma foi deteriorada pela própria relação que o prefeito se permitiu ter com a Câmara Municipal.