Jair Bolsonaro enfrenta um desafio significativo em sua tentativa de transição de popularidade em votos nas eleições municipais deste ano. Após deixar a presidência, o ex-mandatário percebe que, apesar de sua base de apoio ainda ser considerável, essa força não necessariamente se traduz em sucesso nas urnas, especialmente nas capitais, onde a disputa é acirrada e a dinâmica eleitoral é diferente.
A preocupação de Bolsonaro não é infundada: uma derrota de aliados em grandes cidades pode comprometer sua estratégia de retorno ao poder. O impacto de um resultado negativo nessas eleições pode minar a credibilidade de seu projeto político e enfraquecer a aliança com grupos que ainda o apoiam. Em alguns estados, Bolsonaro tem partido para o confronto direto com aliados que são, naqueles locais, muito mais bem avaliados do que ele próprio.
Nas três principais capitais do país – Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte -, os candidatos apoiados por Bolsonaro enfrentam dificuldades e poucas chances de vitória. Em Goiânia, a situação não é diferente, com o candidato bolsonarista figurando na ponta de baixo das pesquisas.
Diante desse cenário, a estratégia do ex-presidente tem sido fomentar a polarização nacional, mesmo em contextos municipais. Bolsonaro busca transformar as disputas locais em uma extensão do embate ideológico que marcou seu governo, tentando acirrar os ânimos entre seus apoiadores e opositores. Essa tática visa consolidar sua base, mas enfrenta um obstáculo: a polarização, embora eficaz em eleições gerais, tradicionalmente não reverbera da mesma forma nas eleições municipais.
Os eleitores tendem a se preocupar mais com questões locais e a buscar candidatos que reflitam suas necessidades imediatas, como zeladoria, limpeza urbana, segurança, saúde e educação. Nesse sentido, os candidatos são escolhidos pelo eleitor sobretudo por sua capacidade de gestão e de agregar forças políticas capazes de viabilizar uma governabilidade que tenha condições de atender as demandas da população.
Portanto, a tentativa de Bolsonaro de imprimir um caráter nacional às eleições municipais pode não ressoar como esperado, colocando em risco a viabilidade de seus aliados nas urnas e, consequentemente, sua própria trajetória política futura. Por essa avaliação, Bolsonaro, ao fim desse pleito, haverá de se responsabilizar por seus próprios erros, que se traduzem no apoio equivocado a candidatos que não se apresentavam com a menor viabilidade política.