Ainda magoado pelas derrotas nos pleitos municipais de Goiânia e Aparecida de Goiânia do ano passado, Jair Bolsonaro expôs o senador Wilder Morais (PL), que era o presidente do órgão provisório da sigla em Goiás até esta quarta-feira (22), a uma humilhação pública. Em entrevista, o ex-presidente mandou um duro recado para o senador goiano e fez questão de deixar claro que quem manda no partido e numa possível formação de chapa majoritária para 2026 em Goiás e no resto do Brasil é ele, Jair Bolsonaro.
“Não é quem o presidente de Goiás quer. Wilder, não é quem você quer. Tudo vai passar por mim. Se eu puder falar com o Valdemar, com o Valdemar também. Vamos escolher pessoas com credibilidade. Não é um Senado que a gente quer perseguir ninguém, mas para falar ‘opa, alguém tá passando do limite’”, disse Bolsonaro.
Em que pese o fato de Bolsonaro se sentir desprestigiado dentro do seu partido, sobretudo pela iminência de uma condenação penal que se avizinha, o recado a Wilder, que soou para muitos como uma humilhação pública, tem a ver com as derrotas pessoais que o ex-presidente sofreu em Goiás nas eleições municipais do ano passado. Bolsonaro culpa Wilder e o deputado Gustavo Gayer pelos fiascos em Goiânia e Aparecida de Goiânia. Para analistas, essa questão poderia ser discutida internamente, mas Bolsonaro preferiu constranger publicamente o senador goiano.
De acordo com aliados próximos do ex-presidente, Jair Bolsonaro teria debitado à conta de Wilder Morais os ônus dessas derrotas, já que ele, como presidente do partido em Goiás, teria que ter tido a responsabilidade de apresentar candidatos à altura dos pleitos, principalmente na capital. O liberal foi o principal cabo eleitoral do ex-deputado cassado Fred Rodrigues na disputa com Sandro Mabel (UB), candidato vencedor da eleição para prefeito de Goiânia e que foi apoiado pelo governador Ronaldo Caiado.
A desautorização pública de Bolsonaro a Wilder Morais, segundo bastidores, tem outro pano de fundo, que é a briga interna que se desenrola dentro do PL em Goiás. O ex-presidente não teria ficado satisfeito com a forma com que seu amigo e aliado, Vitor Hugo, vereador eleito de Goiânia, tem sido tratado pela cúpula do partido em Goiás. O ex-líder de Bolsonaro na Câmara chegou a ser ameaçado de expulsão pelo deputado Gustavo Gayer. Bolsonaro, quando tomou conhecimento da contenda, teria ligado para Wilder Morais e exigido que fosse colocado um ponto final na briga.
Nesta quarta-feira, o órgão provisório do PL em Goiás e que tinha Wilder como presidente foi inativado. Embora o senador declare que continua presidente da legenda no estado, o fato é que, oficialmente, o PL não tem, por ora, órgão representativo em Goiás.
Fracasso
A avaliação da maioria dos analistas políticos de Goiás é que o senador Wilder Morais fracassou enquanto líder partidário. As derrotas em Goiânia e Aparecida de Goiânia, além do desempenho modesto do PL nas eleições nos demais municípios – o partido elegeu apenas 26 prefeitos em Goiás – aponta para falta de articulação da liderança liberal, erro estratégico que, sem dúvidas, compromete o futuro da legenda e as pretensões do senador para 2026.
Reprovado nas urnas em 2024, Morais carrega agora a responsabilidade de ter bancado uma candidatura absolutamente ideológica, sem preparo mínimo para o cargo, o que continua sendo visto pelo eleitor médio como uma atitude contrária aos interesses de Goiânia e dos goianienses.