A extrema-direita, ao longo dos últimos anos, refinou uma série de táticas eficazes para cooptar corações e mentes, e talvez uma das mais poderosas – e perigosas – seja a normalização da estupidez como elemento central do discurso político.
O bolsonarismo, em particular, foi bem-sucedido em romper a barreira da vergonha: seus integrantes perderam completamente o receio de se expor ao ridículo. Vestem-se de fantasias absurdas, difundem teorias conspiratórias, defendem pautas anticientíficas e mentiras evidentes com a segurança de quem se julga portador de uma grande verdade revelada.
Mais do que tolerar a ignorância, o movimento passou a celebrá-la como prova de autenticidade. Nesse universo, quanto mais simples e raso for o discurso, mais poderoso ele soa aos ouvidos dos sectários. A complexidade é vista como inimiga; a dúvida, como fraqueza; o saber, como arrogância elitista.
O bolsonarismo entendeu que exibir ignorância com convicção é uma forma de transmitir confiança a seus seguidores – um paradoxo que se converteu em tática. Assim, criou-se um ambiente em que a estupidez é pré-condição para ser aceito.
Pensar demais ou tentar entender nuances é visto como traição ao grupo. O que importa não é a verdade, mas a lealdade. Essa inversão grotesca transforma o debate público num teatro do absurdo, onde o que vale não é o argumento, mas a performance. E quanto mais absurda for, mais aplausos recebe.
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