Único nome já definido para disputar a eleição para a prefeitura de Goiânia em outubro próximo, a petista Adriana Accorsi não quer repetir os erros do passado e admite ampliar alianças para além dos partidos de esquerda, na tentativa de que esse pragmatismo a leve ao segundo turno da eleição na capital, e, consequentemente, à vitória na disputa pelo Paço. Para a viabilização do seu projeto, Adriana fala em estreitar o diálogo com partidos mais à direita do espectro político, a exemplo do PSD do senador Vanderlan Cardoso, que cogita ir para sua terceira disputa pelo Paço.
Em entrevista ao jornal O Popular, Adriana lembra que em Goiânia o PT sempre teve alianças mais amplas do que no resto do País, e cita a parceria com o MDB, que acabou levando Paulo Garcia, que foi vice do emedebista Iris Rezende, à vitória na eleição de 2012.
“Defendo e trabalhamos na construção de uma frente ampla, não apenas com a esquerda e com muitos partidos para ter uma chapa que realmente represente a maior parte das forças progressistas e democráticas na cidade”, disse a petista na entrevista.
Accorsi admite conversar com todos os partidos que integram a gestão do presidente Lula, e isso incluiria o PSD, já que a sigla, a nível nacional, aderiu à base do presidente Lula. Essa articulação, em especial, estaria facilitada em Goiânia, além da posição da legenda em Brasília, pelo fato de que a possível candidatura de Vanderlan na capital encontra-se esvaziada do ponto de vista político/partidário.
Presidente do PSD em Goiás, Vanderlan vive o dilema de um dirigente que assiste seu partido bem acomodado na base do governador Ronaldo Caiado, sem, contudo, fazer parte dessa base. Distante politicamente de Caiado desde o fim das eleições de 2020, quando recebeu o apoio do governador e não retribuiu esse apoio nas eleições de 2022, Vanderlan ainda não se decidiu sobre uma nova candidatura para prefeito em Goiânia, sobretudo, dizem os analistas, porque não vislumbraria, no momento, estrutura política/partidária suficientemente capaz de sustentar uma candidatura minimamente viável.
Com o partido integrado à base do Governo e seus principais nomes contemplados na gestão caiadista, Vanderlan também está órfão do bolsonarismo na capital, uma vez que o ex-presidente Jair Bolsonaro já indicou que apoiará o candidato do seu partido, o PL, em Goiânia. Diante desse dilema vivido por Vanderlan é que a petista Adriana Accorsi enxerga a possibilidade de contar com o pessedista no seu projeto de chegar ao Paço. “Nós respeitamos a pré-candidatura do senador Vanderlan, mas sabemos que o PSD tem se aproximado muito do nosso governo”, explica Adriana.
O deputado federal Ismael Alexandrino, ex-secretário de Saúde de Caiado, escolhido presidente do PSD metropolitano, admite que uma possível candidatura de Vanderlan a prefeito de Goiânia não está decidida, segundo ele, porque existe a possibilidade de se privilegiar uma eventual eleição a nível estadual em 2026. Alexandrino admite que pode conversar com o PT, assim como com quaisquer outros partidos que queiram ter essa conversa, e sinaliza que um eventual apoio nas eleições municipais deste ano deve incluir o apoio ao senador nas eleições estaduais de 2026.
“O bom diálogo existe, assim como com todos os outros que queiram conversar. Hoje o PSD está na base do governo federal e o relacionamento macro é bom, mas ainda está cedo”, disse, também em entrevista ao jornal O Popular, justificando que, embora houvesse uma proximidade natural de Vanderlan com o PL em Goiás e nenhuma aproximação com o PT, o quadro político mudou, já que o partido de Bolsonaro lançou o deputado federal Gustavo Gayer para a disputa em Goiânia, candidato esse, diz Ismael, que não tem diálogo com ninguém.
Restrição
O distanciamento do PSD do senador Vanderlan Cardoso com o ex-presidente Jair Bolsonaro ficou evidente desde o fim da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos antidemocráticos, encerrada em novembro do ano passado, e que terminou com o apoio do PSD ao relatório final que indiciou Bolsonaro em ao menos cinco crimes.
Não se sabe exatamente se a relação entre Bolsonaro e Vanderlan Cardoso também esteja abalada, mas o fato é que o ex-presidente fechou as portas do PL, e seu apoio pessoal, para qualquer candidato do PSD, seja em Goiânia ou em outros municípios. O partido de Jair Bolsonaro também lançou seu pré-candidato na capital, e, ainda que consiga se reaproximar de Bolsonaro, é possível que Vanderlan não tenha apoio bolsonarista em Goiânia.
A essa “fechada de porta” de Jair Bolsonaro para o partido de Vanderlan, soma-se o fato de que o pessedista também está longe da base do governador Ronaldo Caiado, ainda que o PSD integre o governo. O distanciamento de Caiado e Vanderlan persiste desde 2021, quando o governador fechou aliança com o MDB e escolheu Daniel Vilela, presidente emedebista, para ser seu vice nas eleições de 2022. Em razão disso, Vanderlan não retribuiu, em 2022, o apoio que tinha recebido de Caiado em 2020, optando por apoiar Major Vitor Hugo, candidato bolsonarista derrotado por Caiado nas eleições do ano passado.
Embora seja considerado um forte candidato para a disputa municipal, principalmente pelo seu recall das últimas eleições em Goiânia, analistas políticos avaliam que a falta de uma estrutura partidária, de alianças que reúnam chapas competitivas de vereadores e proximidade com demais lideranças, pode dificultar a caminhada de Vanderlan e sua chegada ao segundo turno das eleições em Goiânia. Esses mesmos analistas avaliam que a dificuldade que o pessedista, em tese, enfrenta hoje, é consequência da sua própria trajetória política, que não se ocupou de consolidar um grupo político, o que é imprescindível numa disputa majoritária.