Ana Carla Abrão enfrenta seu trade-off: salvar Goiás e enterrar
politicamente Perillo ou assumir-se “boi de piranha”.

Doutora em economia pela Fundação Getúlio Vargas, Ana Carla Abrão Costa foi nomeada Secretária da Fazenda no início do quarto mandato de Marconi Perillo (PSDB) à frente do executivo goiano. De perfil técnico, a doutora Ana Carla tenta dar rumo às finanças goianas, totalmente desequilibradas pelos 16 anos de má gestão do “tempo novo” em Goiás. Infelizmente não obteve sucesso nos primeiros 10 meses do ano.

Ana Carla tem declarado à imprensa que a situação tem piorado. As medidas tomadas para sustentar a governabilidade são as mais impopulares possíveis. Antecipação de ICMS, parcelamento de salários, cancelamento de empenhos, calote nas prefeituras e na data-base dos servidores, ponto eletrônico e fim das gratificações são algumas das tentativas da doutora economista para recuperar o equilíbrio perdido. Com rombo de R$ 1,5 bilhão na conta centralizadora e um déficit mensal de aproximadamente R$ 450 milhões, a Sefaz vai “rebolando” pra se manter de pé.

Talvez por não enxergar sucesso possível na sua tarefa de reerguer as finanças do Estado, Ana Carla Abrão começa a abandonar o perfil técnico e insinua a se aventurar no campo político. Ela, que tem sido criticada por aliados desgostosos com sua política de arrocho, inicia um discurso mais político e de amor ao Governador Marconi Perillo.

Ontem, 19/10, na sua conta no twitter, Ana Carla Abrão confessou sua fidelidade canina ao Governador, deixando claro que a defesa dos interesses do tucano sobrepõe-se aos interesses de Goiás: “trabalho para e pelo Governador Marconi Perillo – e com muito orgulho”, disse a Secretária.

A doutora sabe que é impossível “consertar” a lambança acumulada de Perillo sem que este sofra, politicamente, o desgaste das medidas que devem ser implantadas: o corte de despesas, paralisação de obras e investimentos, além de aumento de impostos e outras medidas de arrocho, como o calote nas prefeituras e nos empresários, são medidas que devem ser adotadas, mas que atingirão em cheio o restinho da popularidade do Governo e esvaziará, sobremaneira, a base aliada do tucano. Ana Carla tem consciência que não será possível implementar as medidas necessárias sem que Perillo seja atingindo politicamente, haja vista que não há em quem colocar a culpa.

Ao anunciar que trabalha para Marconi e não para Goiás, Ana Carla deixa claro que não tem interesse de resolver os problemas do Estado se tais soluções conflitarem com os interesses políticos de Marconi Perillo. Considerando que ninguém faz omeletes sem quebrar os ovos, a doutora da Sefaz enfrenta seu trade-off: entre salvar Goiás e enterrar Perillo, optou por manter seu orgulho isento de dignidade.