A posse de Donald Trump, como presidente dos Estados Unidos pela segunda vez, reacendeu a esperança de muitos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que apostavam no poder do magnata americano para interceder em favor do ex-presidente brasileiro. A ideia era que Trump, com sua política de apoio irrestrito a governos de direita, pudesse exercer alguma influência sobre o judiciário brasileiro, revertendo a inelegibilidade de Bolsonaro ou, quem sabe, ajudando-o a escapar de uma possível condenação penal.
No entanto, mal Trump tomou posse e já deixou claro, em sua primeira declaração oficial, que “não precisa do Brasil nem da América Latina”. Esse gesto foi um balde de água fria para os bolsonaristas, que, por tanto tempo, acreditaram que os EUA poderiam intervir diretamente nas instituições brasileiras para proteger seu aliado. A postura de Trump, que demonstrou pouco interesse em se envolver nos problemas internos do Brasil ou da região, frustrou as expectativas de um movimento de extrema-direita que, desde o governo Bolsonaro, demonstrou uma subordinação excessiva ao poder americano.
O comportamento de certos setores da extrema-direita brasileira diante de figuras como Trump revela um preocupante caráter de submissão. Não é difícil perceber que, ao venerar líderes como o novo presidente americano, muitos bolsonaristas alimentam a esperança de que o Brasil, com a gestão de Trump nos EUA, possa se tornar um mero apêndice dos interesses americanos. Este tipo de postura é uma negação da soberania nacional, como se os patriotas brasileiros preferissem que sua pátria estivesse sob a tutela de uma potência estrangeira, em vez de trilhar seu próprio caminho, com autonomia e dignidade.
Além disso, a incoerência entre o discurso de liberdade e a reverência a Trump também chama a atenção. Enquanto defendem ardentemente a ideia de liberdade em solo brasileiro, muitos desses defensores do agora presidente americano parecem ignorar as políticas autocráticas e a erosão de direitos das minorias promovidas por Trump em seu primeiro mandato. A retirada de direitos civis, a hostilidade para com imigrantes, o enfraquecimento de instituições democráticas e as políticas retrógradas voltadas para minorias, como afro-americanos, mulheres e LGBTQIA+, são exemplos claros de que a “liberdade” defendida por Trump é, na verdade, uma liberdade que exclui e oprime.
Portanto, o entusiasmo da extrema-direita brasileira com a posse de Donald Trump soa não apenas como uma demonstração de submissão, mas também como uma desconexão profunda com os valores que professam defender. A esperança de que uma intervenção externa possa resolver os problemas internos do Brasil revela uma falta de confiança nas próprias instituições nacionais, o que enfraquece a ideia de um Brasil soberano, capaz de resolver suas questões sem depender da benevolência de um governo estrangeiro, sobretudo quando liderado por um personagem tão controverso quanto Trump.
Este episódio ilustra, mais uma vez, a fragilidade de um movimento político que não hesita em abdicar da própria autonomia para se alinhar com os interesses de potências estrangeiras, mesmo quando isso significa abrir mão da liberdade e da justiça que tanto pregam.
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