Impasse entre a Prefeitura de Goiânia e a Câmara Municipal da capital gerou mal estar entre vereadores e o Paço e acabou causando um princípio de crise entre executivo e legislativo. Projeto de Lei de autoria do prefeito Rogério Cruz (Republicanos), enviado à Câmara no último dia 26 de dezembro, pedia autorização dos vereadores para que o Paço pudesse fazer aporte de R$ 30,7 milhões à Companhia de Limpeza Urbana de Goiânia (Comurg). Os recursos seriam usados para, segundo a prefeitura, reduzir o impacto do desequilíbrio financeiro vivido pela companhia e normalizar os serviços prestados por ela na área de limpeza urbana e coleta de lixo. Alegando falta de informações e prazo exíguo para apreciação da matéria, os vereadores ameaçaram não votar o projeto.
Já na Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Câmara (CCJ), a primeira por onde deve começar a tramitar os projetos, a resistência à aprovação do pedido da Prefeitura ficou clara com o pedido de vistas do vereador Paulo Henrique da Farmácia (PTC). Ato contínuo, o presidente da Casa, vereador Romário Policarpo (Patriota), criticou o Paço e disse que a Câmara não votaria o projeto sem que fosse informado, detalhadamente, onde, como e quando seriam investidos os recursos.
“O prefeito diz que o dinheiro é para um lugar, o secretário para outro. Para onde é o dinheiro? Só quero saber para onde é. Essa Casa não será culpada pela incompetência da prefeitura”, afirmou. Policarpo sugeriu que a atual gestão teria errado ao colocar pessoas de fora da cidade para comandar a companhia. “Arrebentaram a Comurg quando fizeram inúmeros contratos com diversas secretarias, fazendo com que as despesas não fossem pagas em dia e agora querem culpar a Câmara pela incompetência administrativa desses gestores. Não vou aceitar”, explicou.
Na manhã desta quarta-feira (28/12), vereadores decidiram por uma diligência junto à Prefeitura e à Comurg, para esclarecimento das dúvidas, mas, antes que pudessem fazer tal diligência, chegou à Câmara o pedido do prefeito Rogério Cruz pela retirada da matéria e arquivamento do PL.
Dúvidas persistem
Romário Policarpo lembrou que a Comurg foi entregue ao prefeito Rogério Cruz totalmente sanada ao fim da gestão do ex-prefeito Iris Rezende, em dezembro de 2020, e disse estranhar que em apenas dois anos ela já esteja vivendo uma nova crise, inclusive com dificuldades de recolher o lixo da cidade.
A vereadora Aava Santiago (PSDB) afirmou que as dúvidas não se dissipam com a retirada do projeto pelo Paço, pelo contrário, só aumentam. Segundo ela, se a Comurg realmente precisa desses recursos, o prefeito deveria ter insistido no projeto e dado as explicações pedidas pela Câmara. Para a vereadora, a ação de retirada do PL “cheira muito mal”.
“Questionei ao Paço e gostaria muito de entender como uma matéria que foi concluída no dia 14 de dezembro, só chegou na Câmara no dia 26? Seria interesse do prefeito que os vereadores não se debruçassem sobre um tema tão sensível para a Cidade? O prefeito Rogério Cruz preferiu deixar a Comurg sem os R$ 30 milhões, que ele disse que ela precisa, a dar explicações de como pretendia gastar esse dinheiro”, criticou.