Matéria publicada na coluna Painel, do jornal Folha de São Paulo, informa que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, teria sinalizado ao governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), que aceitaria ser ministro da Fazenda num eventual governo do republicano. O governador paulista é um dos principais nomes cotados para representar o bolsonarismo nas próximas eleições gerais, em tese, contra o presidente Lula, que deve concorrer à reeleição.
A declaração de Campos Neto fez subir a temperatura entre governistas, que o acusam de atuar para sabotar a economia brasileira e, concomitantemente, o governo petista, favorecendo, dessa forma, o possível adversário de Lula em 2026. O atual presidente do BC deixará o comando da autarquia no fim deste ano. Com a autonomia do Banco Central, Neto não pode simplesmente ser demitido pelo presidente da República e, como maior autoridade monetária do País, tem força para comandar a política de juros, hoje uma das mais altas do mundo.
Para o deputado federal Lindbergh Farias (PT/RJ), ao tornar pública sua pretensão de integrar um eventual governo de Tarcísio de Freitas, o presidente do BC teria se assumido bolsonarista e, portanto, perdido todas as condições de comandar o Banco Central brasileiro e as políticas monetárias do País. Segundo o petista, Campos Neto perdeu toda independência que precisaria ter para comandar tamanha instituição.
“Esse cara, de técnico, não tem nada. Roberto Campos Neto faz política o tempo todo, é como se fosse um conselheiro político do Tarcísio [governador de São Paulo]. Esse cara tá sabotando o governo do presidente Lula, ele quer parar a redução da taxa de juros. Isso é criminoso, porque vai paralisar a economia, é um processo de sabotagem. Campos Neto não tem independência para ser presidente do BC, porque é bolsonarista, e não tem independência com o sistema financeiro, ele atua para o mercado financeiro”, disse o deputado em postagem nas redes sociais.
Representantes da ala econômica do governo e aliados políticos do petista avaliam que não tem explicação para o Brasil ainda sustentar uma taxa de juros de 10,5% a.a, uma das maiores do mundo. Para os governistas, com a inflação sob controle e abaixo da meta estabelecida pelo próprio BC, que é de 4,4%, não justifica o patamar estabelecido para a Selic. De acordo com economistas, para manter a inflação controlada, a taxa de juros ideal poderia variar entre 1,5% e 3% acima da inflação. Hoje, a taxa de juros encontra-se cerca de 6,6% acima do IPCA.