Diferente do que alega Jair Bolsonaro (PL), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), único governador reeleito em primeiro turno na história política do estado, não deve o seu sucesso nas urnas a Bolsonaro, nem tampouco foi eleito duas vezes governador de Goiás com apoio do ex-presidente. Em entrevista à Folha de São Paulo, o liberal, que está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou que Caiado e outros nomes que se colocam como possíveis candidatos em 2026 teriam sido eleitos sob a sua sombra e agora, na sua concepção, querem dividir a direita. A realidade, no entanto, diz outra coisa.
“A direita não tem dono. Tem um líder, que é incontestável, e tem jovens lideranças aparecendo pelo Brasil. Sempre vai ter alguém aí querendo dividir o que é chamado de direita hoje em dia. Não vão conseguir. São frustrados, até botei um nome carinhoso, são intergalácticos que têm que mostrar a que vieram. Todos eles se elegeram na minha sombra, ou na minha onda, e rapidamente se voltam contra a gente (sic)”, afirmou o ex-presidente. Embora não tenha citado nomes, a Folha revelou que Bolsonaro se referia a Ronaldo Caiado, Pablo Marçal e ao seu ex-ministro Ricardo Salles.
Ao contrário do que diz o ex-presidente, o governador Ronaldo Caiado é um dos poucos políticos de direita no Brasil que não deve absolutamente nada a Jair Bolsonaro, e nenhum voto que o levou à vitória nas duas últimas eleições para governador de Goiás traz as digitais do ex-presidente. Em 2022, inclusive, quando Caiado foi reeleito com quase 52% dos votos válidos no primeiro turno, a disputa foi travada contra dois candidatos que carregavam a bandeira do bolsonarismo, e um deles, o ex-deputado Major Victor Hugo, era o candidato oficial de Jair Bolsonaro para o governo.
Segundo levantamentos, mais de 70% dos votos recebidos por Ronaldo Caiado em 2022, e que o levaram à condição de único governador goiano a ser reeleito em primeiro turno em toda história de Goiás, vieram do anti bolsonarismo e do eleitor que soube reconhecer os avanços da sua própria gestão, que hoje é avaliada positivamente por mais de 80% da população, o que dá ao goiano a condição de governador mais bem avaliado do Brasil.
Agora, em 2024, a história se repetiu. O candidato a prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), derrotou o candidato apoiado por Jair Bolsonaro, o ex-deputado cassado Fred Rodrigues (PL). O ex-presidente, decidido a vencer Caiado em Goiânia, veio ao menos quatro vezes à capital pedir votos para seu candidato e teve participação ativa nos programas eleitorais do aliado. Não foi suficiente, e novamente foi derrotado pelo governador. Em Aparecida de Goiânia, segundo maior colégio eleitoral do estado, Leandro Vilela (MDB), candidato apoiado por Caiado, também venceu o aliado de Bolsonaro, Professor Alcides, do PL.
Liderança contestada
Pré-candidato a presidente da República em 2026, Caiado, que apoiou Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018 e 2022, mesmo sem ter tido o apoio do ex-presidente no primeiro turno daquelas eleições, avalia que o liberal não soube cumprir sua missão de líder político nas eleições de 2024, e que ele errou ao não respeitar as lideranças locais, sobretudo ao querer impor um candidato que não possuía as mínimas condições para gerir uma cidade do porte de Goiânia.
“Você não faz uma composição majoritária quando você não tem a responsabilidade de apresentar pessoas experientes para o cargo (…) Talvez agora, depois dessa segunda derrota aqui em Goiânia, ele (Jair Bolsonaro) possa acordar, cair a ficha, respeitar as lideranças locais e saber que não vale à pena vir com total deselegância e também com gesto de desrespeito. Sem dúvidas nenhuma, Bolsonaro não soube cumprir a sua missão de líder nos estados. Ele poderia ter priorizado Fortaleza, onde seu candidato disputava com o PT, mas preferiu vir aqui tentar me derrotar. Pra quê? Ele tem que parar de querer inventar lideranças nos estados”, frisou.
Terminada as eleições para prefeito, Ronaldo Caiado falou sobre os ataques sofridos do ex-presidente, que em eventos em Goiânia e Aparecida de Goiânia teria adjetivado o governador goiano de forma desrespeitosa. Caiado disse que preferiu não reagir à provocação de Bolsonaro e reafirmou que tem credibilidade e independência moral e intelectual para governar e fazer política, e que sabe ganhar eleições.
“Se eu tivesse reagido à provocação do Bolsonaro, eu teria perdido o foco. O que interessa é o resultado. Eu tenho uma história de vida. Não é um cidadão que vai dizer o que eu sou. Não é ninguém que vai denegrir a minha imagem. Eu tenho credibilidade moral e intelectual para governar e para fazer política. Eu mostrei que eu sei ganhar eleições, diferente dele (Bolsonaro)”, provocou Caiado.
Inelegibilidade
Disposto a manter a expectativa de poder e, concomitantemente, sua liderança junto ao eleitorado bolsonarista, Jair Bolsonaro rechaça a ideia de estar fora do pleito presidencial de 2026. Mesmo sem sinais de que possa reaver sua elegibilidade e na iminência de ser denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de estado, roubo de joias e falsificação de atestado de vacinação, o ex-presidente diz que só não será candidato se estiver morto.
“Só depois que eu tiver morto. Antes de eu morto, politicamente não tem nome. Pergunta para o Tarcísio [governador de São Paulo]o que ele acha. Ele tem falado, o candidato sou eu. Prosseguindo a minha inelegibilidade é a prova de que acabou a democracia no Brasil”, contesta.
Ao contrário do ex-presidente, que dependeria de ver sua condição de inelegibilidade revertida pelo TSE e ratificada pelo STF, Caiado diz não ter dúvidas de que estará na disputa pela cadeira presidencial em 2026, independente de quem sejam os outros candidatos.
“O que vocês podem ter certeza é que, seja quem for que vier para 2026, Ronaldo Caiado estará no páreo, disputando eleição para presidente. Não sei se Bolsonaro será candidato, mas eu serei”, assegurou.
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