As investigações da Polícia Federal que apontaram a execução de um plano golpista para subverter a ordem democrática no Brasil ao final de 2022, quando o petista Lula da Silva foi eleito presidente da República, apontam indícios de que os recursos para financiar a ação de militares com treinamento especial, denominados Kids Pretos, e que incluía, segundo a PF, a prisão e assassinato do então presidente eleito Lula, do seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, podem ter saído dos cofres do Partido Liberal (PL), o mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, um dos indiciados e apontado como líder da trama. A legenda é dirigida por Valdemar da Costa Neto, que também foi indiciado no inquérito remetido ao STF.
De acordo com as investigações, mensagens captadas no celular do tenente-coronel e ex-ajudante de ordens Mauro Cid, também indiciado e que já firmou um acordo de colaboração premiada, mostra um diálogo em que Cid oferece ao major Rafael Martins de Oliveira um auxílio de R$ 100 mil para bancar a ida de um “pessoal” a Brasília para manifestações bolsonaristas. Esse “pessoal” seria um grupo de kids pretos, que são as forças especiais do Exército. As informações são da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.
Ao ser chamado a depor para esclarecer as informações levantadas pela PF, Mauro Cid teria dito que procurou o general Braga Neto, ex-ministro de Bolsonaro e ex-vice candidato a vice na chapa do ex-presidente, que também foi indiciado no inquérito que apura a tentativa de golpe, para levantar a quantia solicitada pelos militares para colocar em prática a ação de captura de Moraes, Lula e Alckmin. Segundo informações do inquérito, Cid teria dito que o general Braga Neto o mandou procurar o Partido Liberal (PL) para conseguir a quantia. Ainda não é possível saber se o partido de Bolsonaro e Costa Neto de fato financiou o ato golpista.
Para especialistas, caso seja confirmado que o dinheiro usado para financiar a operação dos Kids Pretos, ações que fariam parte da tentativa de golpe de Estado, saiu dos cofres do PL, a situação da legenda se complica e pode culminar, inclusive, com a perda do registro do partido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que poderia acarretar a perda do mandato eletivo de todos os eleitos pela sigla.
Em novembro de 2022, o TSE aplicou uma multa de R$ 22 milhões ao PL e suspendeu o fundo partidário do próprio PL e de mais dois partidos – PP e Republicanos – que formaram a coligação do ex-presidente Jair Bolsonaro na disputa pelo Planalto. A aplicação da multa milionária ao partido de Costa Neto foi motivada por litigância de má-fé, já que o partido foi ao TSE alegar fraudes nas urnas usadas no segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
De acordo com Alexandre de Moraes, que era presidente do TSE à época, o pedido do PL para desconsiderar os votos de urnas consideradas inconsistentes foi esdrúxulo, ilícito e ostensivamente atentatório ao Estado democrático de Direito, e tinha como objetivo tumultuar o processo eleitoral brasileiro e de incentivar movimentos criminosos e antidemocráticos.
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