Durou pouco a euforia de bolsonaristas que enxergavam a eleição de Donald Trump, nos EUA, como meio caminho andado para a anistia aos golpistas do 8 de janeiro, movimento que também beneficiaria o ex-presidente Jair Bolsonaro, devolvendo-lhe a elegibilidade que foi suspensa por decisão do Tribunal Superior eleitoral até 2030. Os últimos acontecimentos, que envolveram um ataque a bomba à sede do Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada e a deflagração da Operação Contragolpe, da Polícia Federal (PF), que culminou com a prisão de cinco pessoas – quatro militares de alta patente do Exército Brasileiro e um policial federal – nesta semana, praticamente enterraram o projeto de lei da anistia e elevaram as investigações de uma tentativa de golpe no país a outro patamar.
Os mais recentes acontecimentos não só colocam jair Bolsonaro ainda mais perto de uma condenação como mentor da tentativa de golpe de Estado, como relegam o bolsonarismo à uma condição marginal dentro do espectro político nacional. Com as revelações da Polícia Federal, de que houve uma trama golpista planejada por bolsonaristas, inclusive com anuência do próprio Bolsonaro, que objetivava o assassinato do então presidente eleito Lula, do seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moraes, o bolsonarismo deixa de ser visto como um movimento político ideológico e assume caráter de organização criminosa, dizem autoridades e políticos.
Diante disso, representantes da direita moderada, a chamada direita tradicional, que esteve ofuscada pelo radicalismo bolsonarista em meio à polarização intensa que tomou o país nos últimos seis anos, surge com mais força como alternativa à racionalidade e ao equilíbrio que o país precisa. Diferente da extrema-direita bolsonarista, a direita tradicional se fundamenta em princípios como a defesa da propriedade privada, a importância do Estado de Direito e a promoção de uma economia de mercado regulada.
Uma das figuras mais proeminentes da direita tradicional no Brasil na atualidade é, sem dúvidas, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), o mais bem avaliado entre todos os governadores do país, segundo várias pesquisas. Com postura pautada pela racionalidade e pelo respeito às instituições, as ações de Caiado contrasta com os movimentos mais radicais associados ao bolsonarismo. Caiado representa um modelo de liderança que valoriza o diálogo e a construção de consensos, características fundamentais da direita moderada que, atualmente, se vê em um cenário político desafiador.
Os fatos que vieram à tona nos últimos dias obrigam a direita tradicional a acelerar o processo de retomada da sua identidade dentro do espectro político brasileiro, realçando seu afastamento das práticas que caracterizam a extrema-direita. O objetivo, sem dúvidas, é resgatar o eleitorado conservador que perdeu a referência diante das práticas autoritárias perpetradas pelos extremistas bolsonaristas, principalmente, e que não se encontre imerso na radicalização. Nesse sentido, outra vez o nome de Caiado é citado como capaz de unir a direita brasileira.
O movimento que se diz conservador no Brasil, muitas vezes associado a Bolsonaro, apresenta incoerências evidentes. Enquanto se proclamam defensores dos valores tradicionais, muitos desses grupos têm adotado posturas que se distanciam do respeito mútuo e da convivência democrática. Essa dissonância cognitiva é evidente quando observamos a adesão de setores da população, rotulados como “pobres de direita”, a um discurso que, em essência, vai contra seus próprios interesses socioeconômicos. Essa contradição gera um embate interno que prejudica a construção de um verdadeiro conservadorismo que respeite a pluralidade e a dignidade de todos os cidadãos. É nesse ponto, portanto, que a direita tradicional busca se reencontrar com seus adeptos.
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