A esperança de muitos bolsonaristas de que a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos levará a uma pressão internacional para devolver a Jair Bolsonaro seus direitos políticos no Brasil é, no mínimo, uma ilusão distante da realidade política tanto americana quanto brasileira. Não há qualquer indício concreto de que Trump, enquanto presidente dos EUA, esteja disposto a se envolver nas questões jurídicas internas do Brasil, muito menos para ajudar a reverter a condenação de Bolsonaro ou interferir no processo decisório do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em primeiro lugar, Trump tem se mostrado, em suas ações e declarações, mais interessado em cumprir suas promessas eleitorais voltadas para a recuperação econômica dos Estados Unidos e para a restauração da autoestima de sua base eleitoral. Seus discursos sempre giraram em torno de uma agenda nacionalista, de protecionismo econômico e de enfrentamento a questões internas, como a imigração e o fortalecimento do mercado de trabalho americano.
A ideia de que Trump dedicaria energia e recursos para um projeto externo de reabilitação política de Bolsonaro no Brasil parece, portanto, descolada do pragmatismo da política externa americana, que, nos últimos anos, tem priorizado os interesses dos EUA em detrimento de questões internas de outros países, especialmente aquelas envolvendo a justiça e os sistemas políticos de nações soberanas.
Além disso, é importante destacar que Trump não demonstra grande afeição por Bolsonaro, algo que fica claro quando se observa seu comportamento nas redes sociais. O ex-presidente dos EUA sequer segue Jair Bolsonaro no Twitter, o que, para um político como Trump, com uma presença tão marcante e estratégica nas redes sociais, é um sinal claro de distanciamento. Não se trata, portanto, de uma relação de amizade ou lealdade entre os dois, como muitos bolsonaristas desejariam acreditar, mas sim de um alinhamento pragmático durante o período em que ambos ocuparam a presidência de seus respectivos países.
Outro aspecto fundamental é que os problemas jurídicos que Bolsonaro enfrenta são, antes de tudo, uma questão da alçada do STF e do sistema judiciário brasileiro. A condenação do ex-presidente, bem como a sua inelegibilidade, são decisões soberanas que refletem o funcionamento do Estado de Direito no Brasil, e não há qualquer indício de que o poder executivo americano se envolveria nesse processo.
As tentativas de influenciar ou pressionar o Brasil nesse sentido ignoram os princípios da soberania nacional e do respeito às instituições democráticas do país. Portanto, é altamente improvável que o mandato de Trump na presidência dos EUA leve a qualquer tipo de ação significativa para reverter a situação política de Bolsonaro. A esperança de que o presidente americano será uma espécie de “salvador” para a causa bolsonarista parece mais uma projeção de desejo do que uma análise realista da dinâmica política global.
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