O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), foi o entrevistado do quadro UOL Entrevista desta segunda-feira (02/10). Por mais de uma hora e meia, o governador goiano respondeu às perguntas dos jornalistas Fabíola Cidral, Josias de Souza e Tales Farias. Entre os vários temas que foram abordados, Caiado discorreu sobre o papel da direita brasileira num cenário de polarização que ainda persiste, mesmo depois de um ano do pleito que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva pela terceira vez presidente do Brasil.
Apontado como um dos possíveis candidatos da direita racional a presidente da República em 2026, Caiado foi perguntado se esse espectro da política brasileira precisa se qualificar, ou se a manutenção do estilo Bolsonaro manterá a direita competitiva. Para o governador de Goiás, é fundamental que o político que pretenda disputar a presidência tenha, sobretudo, autonomia e possa, dentro do seu estilo, aplicar seu conhecimento e defender suas convicções, e lembrou que foi eleito e reeleito em Goiás justamente porque a população conhece a sua personalidade.
“Cada um tem o seu estilo. Eu não tenho que copiar modelo, eu tenho o meu modelo. Modéstia à parte, o povo me conhece. Ninguém tem que vestir a roupa do outro. O que é fundamental é que você tenha noção de conhecimento, estar sempre aberto ao diálogo. Cada pré-candidato vai se colocar para ser analisado pela população. Agora, eu acho que todo homem ou mulher têm que ter identidade própria”, frisou.
Sem citar nomes, Caiado avalia que, muitas vezes, políticos que não tinham identidade própria foram levados a cargos para os quais não reuniam estatura suficiente para ocuparem. “Então, esse debate, se é extremo de cá, se é extremo de lá, não é isso que o Brasil quer. Ninguém quer isso mais. O povo está cansado dessa conversa. O cidadão quer é segurança, juros baixos, acesso à investimentos, à saúde”, explicou, sustentando que, assim como tudo na vida, a política precisa de equilíbrio. “Não se governa com os extremos”, ensina.
Sobre uma eventual candidatura ao cargo máximo da República, Caiado lembrou que não é possível fazer política suprimindo etapas. Segundo ele, esse erro ele cometeu lá em 1989, quando concorreu à presidência sem antes cumprir etapas que seriam imprescindíveis para seu amadurecimento político. Para o político goiano, não é possível discutir agora o pleito de 2026, até porque, diz, antes das próximas eleições gerais, tem a eleição municipal do ano que vem, embora, na sua avaliação, uma eleição não tem nada a ver com a outra.
“Todo esse processo para 2026 virá sim. Cada partido apresentará seus nomes para disputar a eleição para presidente da República, e isso não pode ser feito de forma tão antecipada assim. Agora, a eleição de 2026 não tem nada a ver com o processo eleitoral de 2024, essa é uma realidade”, ressaltou, lembrando que a decisão sobre a sua candidatura é uma decisão partidária, e, por esse prisma, se sente em condições de colocar seu nome à disposição do União Brasil. “É o partido que vai decidir”, pontua.
Em relação ao União Brasil estar fazendo parte do governo Lula, Caiado avalia que o partido age corretamente, já que o objetivo é dar governabilidade, ou assumir os temas que precisam ser alavancados junto ao Congresso Nacional. O governador voltou a defender a autonomia do governante em indicar seus auxiliares, e lembrou que foi contra a troca da ministra da Saúde, Nísia Trindade, uma exigência que chegou a ser colocada pelos partidos do Centrão.
“Eu declarei publicamente, e isso foi estampado nos jornais de circulação nacional, que discordava, que era contra a saída da ministra. Eu sou um governador de estado e sei que existem ministérios, secretarias, cuja escolha dos titulares é prerrogativa do presidente, do governador, do prefeito. Eu nunca abri mão dessa prerrogativa. Não se constrói acordos abrindo mão da governabilidade”, explicou.
Apoio a Bolsonaro
Sobre seu apoio a Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial do ano passado, Ronaldo Caiado foi peremptório ao dizer que não há nenhum arrependimento sobre esse apoio. Caiado lembrou que é, possivelmente, o político mais longevo de oposição ao PT e ao Lula, e que, diante da polarização que perdurou até o último minuto da campanha, não teve o mínimo receio de assumir a posição que assumiu, até porque não faz parte da sua personalidade a omissão.
“Veio para o segundo turno Bolsonaro e Lula, e eu apoiei Bolsonaro, apoiei um programa de governo. Essa tese de que eu poderia estar arrependido, isso não faz parte da minha história política. Eu sou um homem que assumo as minhas posições”, defendeu. Para Caiado, se Bolsonaro cometeu erros, ele é quem tem que responder. “É um assunto do CPF dele. Não cabe a mim responder pelos problemas pessoais dele”, disse.
O governador, mais uma vez, defendeu o estado democrático de direito e lembrou que, nos momentos em que se exigiu a posição do governador do Estado, não se acovardou, tomando as decisões que precisavam ser tomadas, independente se desagradavam a esse ou aquele. “Eu sempre defendi o estado democrático de direito. Sempre! A vida e o estado democrático de direito sempre serão valores inalienáveis na minha concepção”, e lembrou que foi hostilizado em praça pública por defender as medidas para contenção da Covid-19. “A coragem se mede na hora do enfrentamento. É nesse momento que se mede a independência moral e intelectual de um político”, pontuou.