Usando uma expressão coloquial aqui de Goiás, usada para qualificar aquele ou aquela que busca espontaneamente, por sua conta e risco, criar situações problemáticas desnecessárias, Fred Rodrigues, candidato do PL a prefeito de Goiânia, “arrumou pras cabeça” com esse negócio de explorar sua família no programa eleitoral gratuito de televisão. Se o objetivo era, de alguma forma, sensibilizar o eleitorado com o drama enfrentado por sua companheira e também com o fato de ter perdido os pais recentemente, Fred pode ter dado um grande tiro no pé.
Até o fim do primeiro turno, quase ninguém em Goiânia conhecia quem era a mulher que Fred apresentou como sua esposa, nem tampouco se tinha conhecimento que ela enfrenta, há anos, uma doença degenerativa. Poucos tinham notícias de que o liberal teria perdido os pais recentemente, ou sabiam que ele tinha um filho de dois anos. Logo no primeiro programa de televisão do segundo turno, no entanto, Fred fez questão de publicizar todo seu drama familiar, e colocou a própria mulher para narrar como foi a vida do casal nesse período em que estariam juntos.
Questionado, durante sabatina no JA2, da TV Anhanguera, se não seria incoerência, enquanto conservador intransigente e defensor daquilo que chama de valores da família tradicional, manter um relacionamento de 10 anos sem que tivesse alterado seu estado civil de solteiro, Rodrigues apelou e acusou o jornalista que fez a pergunta de estar desrespeitando sua família e explorando um assunto da sua intimidade.
A atitude de Fred Rodrigues, repetida também na sabatina da Rádio CBN/Jornal O Popular, não só escancara a incoerência de quem usa e abusa do discurso ideológico em defesa de valores que considera caros à família tradicional, como o casamento, por exemplo, como beira o cinismo ao acusar que estariam explorando o seu drama familiar, quando foi ele próprio quem escancarou para Goiânia a relação que mantém com a mãe do seu filho.
Com apelos moralistas e defensor de pautas de costumes que são inalienáveis para a extrema-direita, Fred agora se mostra absolutamente desconfortável com os questionamentos sobre não ter formalizado o casamento civil com aquela que já, segundo ele, vive maritalmente há 10 anos.
Obviamente, dizem analistas políticos, a vida privada do candidato não diz respeito a ninguém, mas a partir do momento que ele traz seu drama familiar a público, com o objetivo muito claro de ganhar apelo eleitoral, está sujeito às consequências que essa exposição inevitavelmente traz para o debate político.
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