Estudo publicado pelo IBGE, descrito em nota metodológica da Malha Territorial 2019, aponta que Goiânia é a segunda capital com o menor índice de domicílios em aglomerados subnormais em relação ao total de domicílios ocupados. No Brasil, esses aglomerados são conhecidos por diversas denominações, como favela, invasão, grota, baixada, comunidade, mocambo, palafita, loteamento, ressaca e outras nomenclaturas.
De acordo com o estudo, a capital goiana tem 2,47% de domicílios em aglomerados subnormais, aqui conhecidos como favelas, ficando atrás apenas de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, que registra 1,45% de moradias favelizadas. A capital pior colocada no ranking é Belém, no Pará, com 55,49% de domicílios em favelas.
O IBGE define como Aglomerados Subnormais as formas de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia (públicos ou privados) para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas que apresentam restrições à ocupação.
A condição de Goiânia como uma das capitais com o menor número de favelas em relação aos domicílios ocupados tem relação direta com a atuação e o legado de um político que dedicou 62 anos da sua vida em prol da população goiana e goianiense, e que tinha a moradia digna como uma das suas principais prioridades.
Iris Rezende Machado, que foi quatro vezes prefeito de Goiânia, duas vezes governador de Goiás, senador da República e duas vezes ministro de Estado, foi eleito prefeito da capital pela primeira vez em 1965, quando a cidade tinha cerca de 200 mil habitantes. Iris governou Goiânia até 1969, quando foi cassado pelo AI-5, decretado um ano antes pelo então presidente do regime militar Arthur da Costa e Silva.
Uma das marcas do prefeito mais popular da história da política goiana, entre outras que o tornaram nacionalmente conhecido, foi impedir a favelização de Goiânia a partir de programas de construção de casas para a população mais carente. Assim que foi empossado prefeito de Goiânia, em 1966, Iris iniciou a remoção de ocupações irregulares na cidade, especialmente aquelas erguidas às margens do córrego Botafogo e onde é hoje a Praça Universitária.
As famílias retiradas daqueles aglomerados foram transferidas para casas de alvenaria em conjuntos construídos por Iris, como a Vila Redenção, Vila União, Vila Canaã, Vila Alvorada e Vila Rezende. Os primeiros quatro anos da gestão irista em Goiânia foram fundamentais para evitar a favelização da capital, já que a cidade era um dos principais destinos do êxodo rural que tomou o país a partir da segunda metade daquela década.
“Eu entendi muito cedo que a casa própria é o primeiro item para se dar dignidade a uma família. Ter um teto digno para morar é fundamental e eu fiz dessa prática uma filosofia de vida”, fazia questão de deixar claro em suas entrevistas o emedebista.
Eleito governador de Goiás em 1982, mais de uma década depois da sua cassação, Iris Rezende retomou a construção de moradias e, em ritmo de mutirão, entregou mil casas em um único dia de outubro de 1983. O feito do governador goiano ganhou o mundo e Goiânia se distanciou ainda mais da favelização. A Vila Mutirão abrigou moradores de áreas de risco da capital e deu início a outros bairros da região Noroeste, que foi transformada urbanisticamente pelo próprio Iris Rezende a partir do seu segundo mandato como prefeito de Goiânia, iniciado em 2005.
Ao retornar à Prefeitura para o seu quarto mandato à frente da gestão municipal, em 2016, com a cidade contando quase 1,5 milhão de habitantes, Iris encerrou um ciclo de realizações iniciado 50 anos atrás, colocando Goiânia no topo das cidades brasileiras com melhor qualidade de vida. Ao longo de quatro mandatos, Iris pavimentou ruas, construiu elevados, praças, escolas e muitas moradias, além de ter realizado o maior volume de regularização fundiária da história da capital.
Vidas transformadas
Para Ana Paula Rezende, filha de Iris, que vem trabalhando na finalização do Memorial Iris Rezende, espaço interativo que vai contar a história política do seu pai e também da sua mãe, Dona Íris de Araújo, o grande orgulho do ex-prefeito era perceber que seu trabalho havia transformado a vida de milhares de pessoas ao longo da sua trajetória.
“Nada recompensava mais o meu pai do que receber o abraço e o depoimento daqueles cujas vidas foram transformadas por uma obra sua. E isso era frequente. Muitas vezes presenciei homens e mulheres, em prantos, agradecendo meu pai pela casa que receberam, dando depoimentos emocionados de como suas vidas melhoraram a partir daquelas ações tomadas por ele”, lembra.
Ana reforça que sua preocupação em manter viva a história de Iris Rezende vai além do seu desejo pessoal enquanto filha. Segundo ela, essa contribuição histórica aos goianos é necessária para mostrar para as novas gerações que em Goiás teve um político que realmente se preocupou em melhorar a vida do seu povo e fez desse desiderato sua própria filosofia de vida.
“O legado que meu pai deixou não mudou só a história de Goiás e de Goiânia, mudou a história das pessoas, de famílias inteiras. O legado que Iris Rezende deixou é um legado de dignidade, de amor do político pelo seu povo”, frisou.
Iris Rezende morreu em 9 de novembro de 2021, aos 87 anos, vítima das consequências de um AVCH sofrido seis meses antes. O político foi casado por 57 anos com a ex-deputada Dona Íris de Araújo, que faleceu em fevereiro de 2023, aos 79 anos.