O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), até então aliado de Jair Bolsonaro, foi duramente criticado pelos filhos do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro. O mineiro chegou a ser chamado de “insosso e malandro” pelo vereador. O ataque a Zema ocorreu por conta de uma declaração em um evento na última segunda-feira (25/09), a qual os filhos de Bolsonaro entenderam como uma tentativa do mineiro de desvincular sua imagem de Bolsonaro.
Nas suas falas, Zema teria dito que apoiou Bolsonaro muito mais por reprovar o PT do que por concordar com as propostas apresentadas pelo ex-presidente. O governador mineiro também falou sobre suas diferenças com Bolsonaro, pontuando que uma dessas diferenças é o fato de não ter parentes na política, numa alusão aos três filhos de Bolsonaro e, provavelmente, à Michelle Bolsonaro, que, depois da inelegibilidade do marido, é apontada como pretensa candidata à sucessão do presidente Lula, em 2026. O político do Novo suscitou, ainda, que não foi negacionista como Bolsonaro durante a pandemia.
“Atacar a família acontece bastante quando não parecem gostar muitos dos seus e acabam usando essa baixeza digna de um malandro com cara de pastel”, disse Carlos, o ”02″. O filho do ex-presidente também chamou Zema de “insosso e malandro” e afirmou que ele “traz consigo uma colocação ardilosa digna de João Doria, aquele que pede desculpas a Lula depois de sempre ter usado Bolsonaro”.
A reação dos filhos de Jair Bolsonaro à fala de Zema mostra que a extrema-direita, movimento à margem do espectro político brasileiro, que tem o ex-presidente como expoente maior, não vai permitir que políticos se lancem sucessores de Bolsonaro, a não ser que o eventual candidato à herança eleitoral bolsonarista se declare submisso ao ex-presidente. Com essas reações, bolsonaristas deixam claro que Bolsonaro tem o monopólio da extrema-direita no Brasil, muito embora a chame de direita, e que qualquer político que queira ter o apoio do ex-presidente terá que se submeter ao capitão, demonstrar fidelidade e jamais criticá-lo por seus equívocos.
Mirando 2026, Romeu Zema disputa com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o espólio eleitoral de Bolsonaro. A reação de bolsonaristas à fala do governador de Minas Gerais deixa claro, no entanto, que nem o próprio Bolsonaro, nem o seu entorno mais fiel estão dispostos a apoiar um candidato que decida caminhar com autonomia, sem que se comprometa a “bater continência” para o capitão.
Segundo analistas políticos, com a inelegibilidade de Bolsonaro, a direita racional já percebe que os princípios ideológicos defendidos ao longo da história não estão concatenados com o bolsonarismo, não havendo, portanto, sentido algum em manter proximidade com esse movimento que carrega tendências ultraconservadoras, autoritárias, nacionalistas extremas e supremacistas.
Levantamento do instituto Locomotiva e Ideia Instituto de Pesquisa, apontou que a maioria do eleitorado brasileiro mais à direita do espectro político está disposta a abandonar o radicalismo bolsonarista e caminhar ao lado de uma nova liderança da direita que reúna o equilíbrio necessário para tocar as políticas públicas que o país tanto demanda.
De acordo com o estudo, 54% dos eleitores que votaram em Bolsonaro no ano passado disseram que estão dispostos a apoiar uma nova liderança da direita, mesmo que esse nome não tenha o apoio do ex-presidente. Apenas 18% dos bolsonaristas, coisa de 9% do eleitorado total, não enxergam ninguém além de Bolsonaro para liderar a direita. Esse nicho de eleitores mais radicais, alinhados ao bolsonarismo, porém, não está disposto a facilitar a vida dos políticos que efetivamente demonstram independência ou um discurso mais republicano.
Daí, dizem os especialistas, possíveis candidatos que buscam representar a direita racional devem fazer uma profunda avaliação e medir se realmente compensa adotar discursos que agradam os mais radicais, correndo o risco de desagradar os eleitores mais ao centro, ou se o caminho seria, de fato, descolar desse movimento extremista, e, consequentemente, de Jair Bolsonaro.