Conceituado por Nicolau Maquiavel como o principal elemento da política, o poder, segundo o filósofo, visa à conquista e à manutenção do domínio, não o ato de dominação pela força, mas um atributo que o ser humano leva consigo como elemento-chave para o entendimento das relações políticas e sociais. É essencial, dizem os cientistas políticos, que o detentor do poder não só o exerça no presente, mas que, para que tenha sucesso de gestão, inspire no seu entorno a expectativa de que esse poder será duradouro. Numa democracia representativa, essa expectativa de poder é demonstrada a partir da aprovação eleitoral do agente político.
Eleito vice-prefeito em 2020, Rogério Cruz (Republicanos) foi alçado à condição de prefeito de Goiânia em virtude da morte do titular, Maguito Vilela (MDB), 13 dias depois da posse, em 2021. O rompimento com o MDB logo nos primeiros meses da gestão obrigou Cruz a buscar alternativas pela governabilidade e, sem estrutura política capaz de garantir-lhe estabilidade, ele adotou ações que hoje se revelam equivocadas. Com uma relação fisiológica com a Câmara Municipal, onde convencionou trocar cargos por apoio no legislativo, não demorou para que as crises políticas começassem, e a sua administração simplesmente não decolou. Nos dois primeiros anos, a Prefeitura apresentou grande dificuldades para executar seu orçamento, empenhando e liquidando um percentual mínimo do previsto para investimentos.
Ameaçado de impeachment pelos vereadores, pressionado por cargos e enfrentando uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) no legislativo municipal, Rogério Cruz amarga quase 60% de reprovação do eleitorado goianiense, segundo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada no início do mês. As intermináveis obras, embora a prefeitura não apresente problemas de caixa, são vistas pela população da capital como prova de inoperância e incompetência administrativa da atual gestão. E isso deixou de ser uma queixa apenas dos moradores. Recentemente, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), o vice-governador, Daniel Vilela (MDB), e o presidente do Iphan no Estado, o ex-prefeito de Goiânia Pedro Wilson (PT), criticaram publicamente a gestão municipal pela incapacidade de terminar as obras, principalmente no centro da cidade.
Diante do atual cenário, a gestão de Rogério Cruz sofre com falta de autonomia política e a evidente falta de expectativa de poder futuro, o que acaba criando um movimento de imediatismo entre os vereadores da capital e demais auxiliares do Paço. Se falta essa expectativa, todos querem resolver suas demandas no menor espaço de tempo possível, o que acaba comprometendo a administração e a prestação dos serviços públicos demandados pela população, explicam os especialistas. Em outras palavras, o caos se instala e o ente público se transforma em mero balcão de negócios. O senso comum é que a cidade e seus moradores sofrem prejuízos irreparáveis quando o dirigente máximo perde a condição política de administrá-la.
Nos bastidores da política local, comenta-se que o próprio partido de Rogério Cruz, o Republicanos, o teria abandonado e não o vê em condições de tentar a reeleição, o que é corroborado por declarações de vereadores do partido. Diante disso, surgiram conversas de que o prefeito de Goiânia poderia buscar uma nova sigla partidária, o que é negado pela presidente da legenda em Goiânia, vereadora Sabrina Garcez. Enquanto o tempo passa, Rogério Cruz continua fazendo mudanças na sua equipe, na tentativa de reverter o quadro que muitos acreditam ser irreversível.