O bolsonarismo entendeu muito cedo que a ignorância não é apenas a ausência do conhecimento, mas, sobretudo, o principal elemento que sustenta a legião de incautos e incultos seguidores da seita liderada por Jair Bolsonaro, um medíocre deputado do baixo clero do Congresso, que chegou à presidência da República alçado que foi por mais uma retaliação histórica imposta por um movimento conservador, que na essência conserva apenas ela, a ignorância, e o ódio.
Se Martin Luther King bradou que o “preocupante não era o grito dos maus, mas sim o silêncio dos bons”, aqui o parafraseio para dizer que o que me indigna não é a ignorância absoluta de um fascista, que se locupleta com o eco que seus gritos encontra entre os alienados emburrecidos, mas sim a covardia daqueles que, revestidos do saber, se submetem à burrice escrachada de um sem noção.
Nos últimos dias em Goiás, pelo menos quatro inaceitáveis episódios contra a cultura e a educação ocorreram à vista de uma nação inteira e ajoelhada para o absurdo. Três professores da rede particular de ensino de Goiás foram demitidos, e uma obra de um escritor goiano, indicada para o vestibular de medicina de uma universidade do interior de Goiás, foi censurada, depois que um deputado federal bolsonarista foi às redes sociais criticá-los, única e exclusivamente porque não gostou da forma como os educadores se manifestaram em sala de aula, e porque, na sua opinião, o livro tinha conteúdo pornográfico.
Como já disse, minha indignação não reside no fato de um beócio exprimir a sua incoerente opinião, até porque, de acordo com a nossa constituição, e demais legislação infraconstitucional, enquanto o limite da liberdade de expressão legalmente exigido não é ultrapassado, não haverá delito de opinião a ser punido. O que nos deixa perplexos é a reação das instituições de ensino, academias do saber e da cultura, que se renderam ao reclame de um mal intencionado extremista. O que se esperava de tais instituições não era outra atitude, senão o veemente repúdio à censura e ataques à reputação dos profissionais vítimas desse movimento asqueroso que tomou o Brasil nos últimos anos.
Esse movimento deletério de desconstrução da cultura e da política, de criminalização do ensino e das instituições, deve ser enfrentado justamente por quem detém o conhecimento e os argumentos capazes de contrapor o negacionismo nefasto, base da cooptação engendrada pela extrema-direita brasileira. Através das redes sociais, a turba bolsonarista inaugurou um movimento revisionista e de imposição de uma leitura absolutamente ignóbil da história e dos valores humanos, e descobriram que isso rende dinheiro e poder político.
O desprezo à vida, à verdade e aos direitos humanos é a política que move o bolsonarismo. A ideia do supremacismo sempre esteve presente nos discursos inflamados do líder que negou a ciência, que criminalizou a cultura e o ensino, e que tem como um dos seus maiores ídolos o maior dos torturadores da história do Brasil. Surreal esses episódios que ocorreram em Goiás, mas, difícil de acreditar, o fato é que essa estupidez foi corroborada por aqueles que deveriam zelar por nossos acadêmicos.
Felizmente, vozes em socorro do bom senso, da lógica e contra o negacionismo se manifestaram. Sindicatos, instituições de ensino e universidades expressaram repúdio às atitudes, não só do extremista, mas dos estabelecimentos de ensino que se curvaram aos vitupérios perpetrados com o intuito único de fidelizar uma claque adoecida, sequestrada pelo bolsofacismo e que se regozija com cada frase cretina pronunciada pelos representantes da seita.
Termino reproduzindo a nota emitida pelo Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro): “Não podemos compactuar com discursos retrógrados e ofensivos que causam prejuízo a toda sociedade e em especial aos professores, que podem ser vítimas de violência física ou moral praticada por terceiros que são encorajados pela divulgação e propagação de informações falsas e injuriosas, que insistem em distorcer o conceito de ensino para perseguir aqueles que pensam diferente ou que apenas aplicam em sala de aula o conteúdo necessário para estudo da disciplina”. E acrescento: o medo da ignorância deve gerar o saber e não a covardia.