Nove entre 10 analistas políticos com quem conversei dizem que a peça divulgada pelo ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), desferindo uma série de ataques a Ronaldo Caiado e seu governo, foi um grave erro em se tratando de marketing político. Os especialistas avaliam que pode ter faltado ao tucano um aconselhamento imparcial e mais profissional. Para essa turma, a estratégia usada por Perillo foi desastrosa, porque, segundo eles, expõe de maneira flagrante os motivos que levaram a fragorosa derrota do pessedebista para o Senado em 2018, quando ele foi apenas o 5º colocado no pleito.
Ao criticar o sistema de saúde do Estado, por exemplo, Perillo praticamente induz o eleitor a buscar na memória uma das mais de 30 ações de improbidade administrativa a que responde na justiça, que o acusa de ter deixado de aplicar na área da Saúde goiana quase R$ 600 milhões, apenas para cumprimento do mínimo constitucional. A ação, movida pelo Ministério Público de Goiás, diz que entre 2011 e 2017 o então governador Marconi Perillo teria usado de “contabilidade criativa” para maquiar o cumprimento do índice constitucional da saúde, uma obrigação que o gestor tem de investir no mínimo 12% da receita com impostos em ações e serviços públicos de saúde.
A impressão que o eleitor tem quando vê Marconi criticando a gestão de Ronaldo Caiado é de que o vídeo pode ser uma espécie de “pegadinha”, tamanha é a ingenuidade demonstrada pelo tucano ao produzir prova contra si mesmo. As dificuldades enfrentadas hoje pelo atual governo tem suas raízes fincadas na situação fiscal e financeira deixada por Marconi Perillo e por seu sucessor nos últimos nove meses da gestão, José Eliton. Ao final de 2018, segundo relatório do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, o rombo nas contas públicas do Estado, incluindo os restos a pagar daquele exercício e exercícios anteriores, chegava perto de R$ 7 bilhões.
Devido às irregularidades encontradas nas contas públicas do Estado, como a indisponibilidade de caixa, o não cumprimento dos índices constitucionais, o não empenho da folha de dezembro e de parte de novembro e uma série de maquiagens contábeis, os conselheiros do TCE-GO decidiram pela emissão de parecer pela não aprovação das contas de governo de Marconi Perillo e de Zé Eliton, algo inédito no Estado.
Ao falar de corrupção no Governo Caiado, coisa que não se verificou até o momento, Marconi, novamente, joga todos os holofotes sobre si e convida o eleitor a relembrar a operação Cash Delivery, do Ministério Público Federal, que investiga o suposto pagamento de propinas a ele próprio pela empresa Odebrecht.
De acordo com a PGR, Marconi Perillo, por intermédio de Jayme Rincon, então presidente da antiga Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), teria recebido ilicitamente recursos para suas campanhas eleitorais ao Governo do Estado de Goiás nos anos de 2010 e 2014, em troca de patrocinar os interesses da Odebrecht no Estado, especificamente os interesses da Odebrecht ambiental na área de saneamento básico. Os pagamentos a Perillo teriam somado a importância de R$ 12 milhões, segundo os delatores. Por conta dessa operação, Perillo chegou a ser preso na fase de inquérito da ação e ficou detido por 24 horas na sede da Polícia Federal em Goiás.
Incentivado pelo próprio Marconi Perillo a buscar as realizações do seu governo, o eleitor terá a oportunidade de se deparar com informações diferentes daquelas apregoadas pelo tucano, principalmente quando fala em realizações. Ao final do seu governo, restavam paralisadas cerca de 400 obras em todo o Estado. Três grandes hospitais regionais, de Uruaçu, Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto, continuavam aos escombros. Em 16 anos de governo, Marconi foi incapaz de entregar essas unidades e nem tampouco implantar os 13 complexos regionais de regulação da saúde, que deveriam ter sido construídos desde 2008.
Ao reivindicar realizações na área da segurança pública, Marconi convida o eleitor a se lembrar que Goiás chegou a ser o 5º estado mais violento do país e Goiânia, a capital, a 23ª cidade mais violenta do mundo sob a sua gestão. Quando se fala em investimentos na segurança pública, Marconi Perillo é lembrado como o governador que criou o famigerado Simve, uma polícia temporária e sem qualificação para o desempenho das funções e que foi, oportunamente, declarada inconstitucional pelo STF. O tucano também é lembrado pela criação da famigerada 3ª classe da Polícia Militar e da 4ª classe da Polícia Civil, categoria que recebia 1/3 dos salários pagos aos demais policiais. Assim que assumiu o Governo, em 2019, Ronaldo Caiado tratou de corrigir tal excrescência e equiparou o salários desses policiais.
Enfim, a equivocada estratégia de Perillo de voltar à cena política resgata uma extensa lista de um passivo jurídico/administrativo do tucano que, ao contrário da mera retórica que ele usa contra Caiado, está registrado em ações judiciais, relatórios da área técnica do TCE-GO e matérias jornalísticas que podem, a qualquer tempo e hora, ser facilmente acessados por todos os eleitores goianos.