Em outubro de 2020, o então prefeito de Goiânia Iris Rezende (MDB), a maior liderança política do Estado de Goiás e o maior nome do MDB goiano, esteve em Aparecida de Goiânia, cidade da região metropolitana, para encontrar-se com o prefeito daquela cidade, o jovem Gustavo Mendanha, que dias depois seria reeleito com mais de 95% dos votos válidos. Na ocasião, Iris Rezende fez uma previsão e disse que Gustavo deveria se preparar para no futuro ocupar o cargo de governador do Estado.
“Eu quando o cumprimentava lá embaixo dizia se prepare para daqui a quatro anos você assumir o governo de Goiás. Não é por estar na presença dele, me relaciono com todos os políticos, homens, mulheres de Goiás, mas para mim a grande revelação dos últimos tempos é do prefeito de Aparecida de Goiânia”, destacou o prefeito Iris Rezende.
Obviamente, Iris se referia ao pleito estadual de 2026, já que, não era e não é segredo pra ninguém, a admiração que o emedebista tem por Ronaldo Caiado e, sobretudo, a confiança que deposita na gestão do democrata, além de ser um dos maiores entusiastas da reeleição do atual governador. Além disso, Iris e Caiado construíram uma relação de amizade pouco vista na política goiana. Em 2018, Iris foi o maior incentivador de uma aliança do seu MDB com Caiado, o que acabou não acontecendo. A vitória de Caiado naquele pleito uniu ainda mais os dois políticos, que puderam desenvolver uma série de parcerias administrativas que trouxeram benefícios para Goiânia e para Goiás.
Agora, em 2021, inconformado com o resultado da ampla consulta feita pelo presidente do MDB goiano às bases do partido em todo Estado de Goiás e que culminou com a decisão da maioria esmagadora da legenda (cerca de 92% dos 160 diretórios consultados) de que uma composição com o democrata seria o melhor caminho a ser seguido pelo partido, Mendanha anuncia que vai deixar o MDB e construir um projeto antagônico ao de Ronaldo Caiado e, obviamente, do seu irmão político Daniel Vilela.
A decisão de Mendanha, chamada por muitos correligionários de intempestiva, pode sepultar de vez a previsão daquele futuro promissor vislumbrado por Iris Rezende e jogar uma pá de cal na até então promissora carreira política do prefeito de Aparecida de Goiânia. Fora do MDB, a Mendanha restaria a companhia justamente daqueles que foram os adversários históricos contra os quais lutaram Maguito Vilela, padrinho político de Mendanha, e o próprio Iris Rezende, seu conselheiro.
No discurso em que oficializaram a aliança para 2022, Daniel Vilela, que será o candidato a vice-governador, e Ronaldo Caiado bradaram em alto e bom som que um dos objetivos que os unem nessa aliança seria exatamente o desejo de impedir a volta do grupo político comandado pelo ex-governador Marconi Perillo (PSDB), derrotado nas eleições de 2018, ao comando do Estado.
O governo tucano, como ficou comprovado pela reprovação das contas dos ex-governadores Marconi Perillo e José Eliton pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás, deixou o Estado em 2018 com rombos que ultrapassavam R$ 7 bilhões e uma série de outras inconsistências que comprometeram as finanças públicas e a capacidade de pagamento do ente público goiano, um atraso que ainda não foi totalmente superado.
Talvez Mendanha esteja ignorando o conselho implícito de Iris Rezende, que ao falar em futuro promissor estava, também, aconselhando-lhe a ter paciência. Ao deixar o MDB e aliar-se a Marconi Perillo, o prefeito de Aparecida acrescenta à sua carreira um peso que, muito provavelmente, não conseguirá carregar, principalmente numa campanha majoritária neste momento.
Gustavo Mendanha, como bem disse Daniel Vilela, teve no MDB todas as oportunidades e apoio que precisou para chegar onde chegou. Foi alçado à prefeitura de Aparecida por Maguito Vilela e muito da sua popularidade vem de Maguito, um dos maiores nomes da legenda em Goiás. É possível que não consiga se livrar da pecha de ingrato ao deixar o partido que o projetou para a política.
Embora não seja possível prever com exatidão as consequências para Gustavo Mendanha, caso realmente deixe o MDB para tentar uma eleição para governador de Goiás, é fato que as circunstâncias não lhe são favoráveis, a começar pelo adversário que hipoteticamente enfrentaria.
Ronaldo Caiado, hoje, tem uma ampla base de apoio de partidos e prefeitos e um governo bem avaliado, sobretudo na área da segurança pública, educação e saúde, o que tem sido percebido pela população. O democrata tem conseguido resultados alvissareiros na execução orçamentária e o Estado segue firme em busca do reequilíbrio fiscal, medidas imprescindíveis para a retomada dos investimentos.
Para viabilizar seu projeto de concorrer às eleições em 2022, Gustavo Mendanha teria que, além de abandonar o MDB, partido que o projetou, deixar a prefeitura de Aparecida de Goiânia em abril de 2022, tendo cumprido apenas 15 meses do seu segundo mandato. Além disso, o ainda emedebista teria que convencer seus eleitores que uma possível aliança com Marconi Perillo e o PSDB seria parte de um projeto para Goiás e não apenas de interesse pessoal, algo que o eleitor, certamente, terá dificuldades de entender.
Como se vê, não será tarefa fácil para o jovem político de Aparecida e as consequências dessa sua, digamos, intempestividade, pode custar-lhe a própria carreira e enterrar de vez aquele futuro previsto por Iris Rezende.