Em entrevista à jornalista Cileide Alves, do jornal O POpular, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles (PSD) disse que o Brasil vive um fenômeno raro na economia, mas que tem grande poder de dificultar a vida das pessoas. Segundo ele, o Brasil experimenta a chamada estagflação, uma situação econômica que reúne alta taxa de desemprego, baixo crescimento econômico e inflação alta. O principal motivo para que o país tenha chegado nesse ponto, de acordo com Meirelles, é o fato do atual governo ter desprezado o controle fiscal, o que acabou gerando incertezas no mercado, o que contribuiu para a persistência da alta do dólar.
Para Meirelles, o quadro desolador deve continuar e vai obrigar o Banco Central a aumentar ainda mais a taxa de juros, o que acaba piorando o cenário. Para o economista, diante do quadro atual da economia brasileira, não adianta a aplicação de medidas mitigadoras e que o ideal é enfrentar a causa do problema, a qual, na sua avaliação, decorre das medidas equivocadas do governo Federal que acabou furando o teto de gastos, causando o desequilíbrio fiscal, fato que contribuiu para que o dólar continuasse alto, mesmo com o aumento do volume de exportações das commodities brasileiras.
“Normalmente, num momento como esse, de aumento de preços das commodities, o Brasil exporta mais, entram mais dólares na economia brasileira e, com isso, o normal é que o dólar caia de preço. Isso, em tese, compensa o aumento do preço em reais dos alimentos. Mas o que aconteceu dessa vez? Devido a todas as incertezas, como o desequilíbrio fiscal, furo do teto de gastos, parcelamento de precatórios, tudo isso gera insegurança e fez com que o dólar não caísse”, explica.
Meirelles avalia que, independente de quem ganhar as eleições, só será possível reverter o atual quadro econômico brasileiro priorizando a responsabilidade fiscal. O pessedista diz que quaisquer medidas mitigadoras para reverter essa situação serão infrutíferas e tendem a levar o governo Federal a gastar ainda mais, o que pode, inclusive, piorar a situação.
“A solução, de fato, passa pela questão fiscal. É preciso buscar o equilíbrio das contas públicas. O governo tentar intervir em preços, intervir na Petrobrás, intervir em preços de eletricidade só gera distorções na economia e mais problemas”, afirma, reforçando que o problema deve ser resolvido na causa.