A economista Ana Carla Abrão, sócia da consultoria americana Oliver Wyman no Brasil, disse em entrevista à jornalista Cileide Alves, do jornal O Popular, que a inflação experimentada no Brasil hoje decorre, principalmente, de problemas domésticos que não podem ser confundidos com as consequências advindas da grave crise sanitária que tomou o mundo em 2020.
Para a economista, que já ocupou o cargo de secretária de Fazenda do Estado de Goiás no início do quarto mandato de Marconi Perillo (PSDB), entre 2015 e 2016, o presidente Jair Bolsonaro acerta parcialmente ao citar a inflação atual como um fenômeno global, causada, sobretudo, pelas ações de enfrentamento à pandemia do coronavírus, mas que é preciso pontuar que o Brasil tem relevantes problemas domésticos na área da economia que exercem muito mais pressão sobre os preços do que apenas a retração econômica experimentada pelo advento da Covid-19. “No nosso caso, especificamente, nós temos fatores domésticos muito mais importantes que não podem ser ignorados”, diz.
De acordo com Ana Carla Abrão, as causas da inflação no Brasil, que chegou a dois dígitos nos últimos 12 meses, estão diretamente ligadas à instabilidade política que o país atravessa, bem como à insegurança, inclusive jurídica, verificada nos últimos dois anos. Tudo isso, segundo ela, impacta diretamente no câmbio, que por sua vez eleva a inflação.
Também seriam causas diretas do aumento inflacionário a crise energética que o Brasil atravessa, o que teria, segundo a economista, impactado os preços administrados, que são aqueles produtos e serviços com reajustes definidos por contratos ou regulados pelo setor público.
“Eu diria que hoje, boa parte da inflação que a gente carrega, ela vem sim como consequência de erros de política econômica e de gestão pública por parte do governo federal”, explica.
Para Ana Carla, o desempenho cambial do Brasil, que foi o pior entre todos os países emergentes, e a má gestão da crise de energia, que segundo ela já vinha há muitos anos, são os pontos principais para a alta da inflação no país. A economista acredita, também, que a falta de experiência de Paulo Guedes no setor público contribuiu para o fracasso das suas agendas.