A notícia de que um bolsonarista preso na Papuda por força de mandado de prisão preventiva decretado pelo Supremo Tribunal Federal teria morrido em decorrência de um mal súbito nas dependências da penitenciária em Brasília reacendeu as discussões sobre os atos golpistas do 8 de janeiro.
De um lado, bolsonaristas tentam jogar o peso da morte do “patriota” nas costas do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, responsável pela condução dos inquéritos que apuram a participação dos presos na tentativa de golpe e abolição do estado democrático de direito, sob a alegação de que as prisões seriam ilegais. Do outro, numa avaliação mais sensata e previsível, oposicionistas a Jair Bolsonaro defendem que o culpado por tudo que aconteceu com esses brasileiros que hoje respondem pelos crimes enunciados seria justamente o ex-presidente.
Discussões jurídicas à parte, o fato é que Jair Bolsonaro, ex-presidente derrotado nas eleições de outubro de 2022, poderia ter evitado que milhares de brasileiros, muitos absolutamente ignorantes politicamente, destruíssem suas vidas e suas famílias.
O senso geral é que, se Jair Bolsonaro, celebrado como “mito” por essa gente, tivesse aceitado a derrota nas eleições, se tivesse reconhecido o resultado das urnas e se tivesse feito um pronunciamento de apelo aos seus seguidores, pedindo que eles voltassem para suas casas e se preparassem para 2026, nada disso teria acontecido e, por conseguinte, nenhum “patriota” teria sido preso e/ou teria morrido na prisão, ainda que por causas naturais.
Diferente do esperado, o silêncio de Jair Bolsonaro alimentou a intentona, permitiu a ação de oportunistas que queriam ganhar dinheiro e poder político diante da dissonância cognitiva dos seguidores mais fanáticos do ex-presidente e culminou com a insana tentativa de golpe de estado, cujo auge foi a quebradeira dos prédios dos Três Poderes, em Brasília.
O fato é que o ex-presidente tinha, conforme se vê agora com a colaboração premiada do seu ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, realmente a intenção de golpear a democracia e continuar no cargo. Na realidade, Bolsonaro, valendo-se do sectarismo e ignorância que cercavam seus apoiadores, incentivou o levante, sem, contudo, se preocupar com as consequências para a vida desses pobres alienados.
A morte do “patriota” Cleriston Cunha, ocorrida na Papuda e motivada por um infarto fulminante, muito provavelmente não ocorreria nessas circunstâncias se Jair Bolsonaro tivesse aceitado o resultado das urnas e respeitado o processo democrático brasileiro. Diferente do que o ex-presidente alega, de que não teria condições de desmobilizar seus apoiadores, a verdade é que Bolsonaro e seu entorno têm total domínio sobre as ações da massa mais fanática às suas ideologias.
Bastava tão somente um pronunciamento de Bolsonaro para que a tentativa de golpe não ocorresse e, consequentemente, nenhum bolsonarista estaria hoje preso na Papuda por tentativa de golpe de estado.