O país mergulhou na bipolaridade desde as últimas eleições presidenciais. De um lado, os fãs de Bolsonaro, o mito, para os seus seguidores, do outro, os apaixonados por Lula, segundo o próprio, o homem mais honesto do mundo.
Esperava-se que o Presidente eleito, fosse quem fosse, buscasse pacificar o país e não acirrar a divisão, pelo menos é o que ensinam os manuais de ciência política. Contudo, deu-se o oposto, e o presidente passou a dirigir-se, quase que exclusivamente, aos seus mais apaixonados apoiadores, estimulando o confronto e o ataque aos seus adversários, tratados como inimigos, como a imprensa e a esquerda.
Ressuscitou o anticomunismo, como se estes comessem criancinhas e matassem vovozinhas. Esquecendo-se que foi eleito por pessoas que não o tinham como primeira opção e outras que nele votaram para promover a mudança de governo, sem, no entanto, alinhar-se com seus torcedores e fãs. Ademais, o chefe do executivo é presidente de todos os brasileiros e não de uma parte deles. Contudo, preferiu adotar uma posição de extrema direita, intolerante e agressivo com os que dele discordam, promovendo o discurso do ódio que imputava ao PT.
Ao invés de ampliar o leque de apoiadores, o presidente preferiu restringir o seu apoio aos mais entusiastas. Com isso, passou a se isolar politicamente, pois optou pelo confronto com os que não pensam como ele. No lugar de pontes construiu muros. Foi incapaz de construir uma base de apoio parlamentar no Congresso, sob a justificativa de que representava a nova política e não adotaria a política do ¨toma lá, dá cá¨, ou seja, não entregaria cargos por apoio de parlamentares.
Entretanto, recentemente, começou a oferecer cargos aos partidos do conhecido ¨centrão¨. Depois de contradizer o seu próprio ministro da Saúde, brigar e atacar os governadores que adotaram medidas de isolamento social, como na maioria dos países, demitiu o ministro desta referida pasta e nomeou outro, que assim como o anterior não consegue conter os arroubos do presidente que não cumpre com as orientações sanitárias.
Parece que o Presidente abdicou da função de governar. Não deseja fazê-lo ou não é capaz disso. Culpa os Governadores pela crise sanitária, mas não toma providências para enfrentá-la. Ignora a quebradeira dos Estados e participa de manifestações públicas, em que, embora não diga textualmente, manifesta com a sua presença apoio à intervenção militar no seu próprio governo. Talvez seja o único presidente do mundo a tê-lo feito.
O pior é que os seus fãs não se apercebem disso e por cegueira ideológica chegam a duvidar da própria pandemia que atacou o mundo, duvidam das mortes e alguns espalham fake News que afirmam que os caixões estão cheios de pedras. A que ponto o radicalismo, o extremismo e o discurso de ódio nos fizeram chegar. O governo atual acusava o anterior de aparelhar o Estado, mas este faz o que condenava no rival. E agora, que demitiu o ex-Ministro Sérgio Moro, repete contra ele o mesmo discurso do grupo político que tanto combateu.
Aqui, mais uma vez, os extremos se encontram nos ataques a Sérgio Moro. A saída que o país precisa encontrar não será por essas vias.
Fernando Aurvalle Krebs é promotor de Justiça e mestre em direito