Por muitos anos, o dia 22 de dezembro se notabilizou como um dia de confraternização, de rever os amigos, de ver de perto políticos importantes, mas, sobretudo, o dia de participar de um evento que reunia muita gente do povo. Não era feriado no calendário, mas era o dia de celebrar o aniversário de Iris Rezende Machado, um dos maiores líderes políticos da história de Goiás.
Na sua fazenda, em Guapó, município da região Metropolitana de Goiânia, sem convites formais, sem divisão de classes, uma verdadeira multidão se reunia para comemorar a vida de Iris, com muita alegria e fartura. De forma absolutamente espontânea, Iris reconhecia a todos como amigos, como velhos conhecidos. Andava no meio do povo como se andasse entre companheiros de jornada. Era querido, porque sempre cuidou das pessoas, sem distinção.
Tendo iniciado sua carreira política como vereador de Goiânia, eleito em 1958, Iris Rezende, que hoje completaria 90 anos de vida, se consolidou como um dos maiores políticos que o Estado de Goiás já conheceu. O primeiro mandato como prefeito da capital lhe foi confiado pela população goianiense ainda em 1965. Antes tinha sido eleito deputado estadual, em 1962, e ocupado a presidência da Assembleia Legislativa de Goiás. À frente do executivo municipal, com uma cidade com pouco mais de 200 mil habitantes à época, Iris iniciou ali a construção da capital fundada por Pedro Ludovico e nunca mais parou de construir Goiânia.
O homem que criou os mutirões ocupou praticamente todos os cargos públicos eletivos. Foi vereador, deputado estadual, prefeito por quatro mandatos, governador por dois mandatos, senador, ministro da Justiça e ministro da Agricultura. Cassado em 1969 por força do Ato Institucional nº 5, editado um ano antes pelo presidente militar Arthur da Costa e Silva, Iris teve seus direitos políticos suspensos por 10 anos, mas voltou em 1982, após a anistia, para vencer as eleições daquele ano para governador do Estado, numa das mais emocionantes campanhas eleitorais já vistas em Goiás.
Como governador, Iris desenvolveu Goiás. Abriu estradas, criou programas de incentivos que permitiram a industrialização do Estado, construiu a estação de água do Meia Ponte, entregou moradias para a população de baixa renda e continuou construindo Goiânia. Em 1983, o emedebista idealizou e realizou o maior mutirão humano da história ao construir mil casas em um único dia. O feito correu o mundo e os mutirões passaram a ser uma marca indelével das gestões iristas, rendendo a ele o título de “rei dos mutirões”.
Como político, Iris Rezende foi um dos principais protagonistas da redemocratização do país. Em 1984, o então governador de Goiás comandou o primeiro grande comício pelas Diretas Já no Brasil. Cerca de 500 mil pessoas foram à Praça Cívica e adjacências, no centro de Goiânia, ouvir Iris Rezende, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães bradando pela volta do voto direto para presidente da República, suspenso pelo golpe de 1964. Iniciou aqui, sob o comando de Iris, o movimento que culminou com a eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral em 1985.
Iris venceu e perdeu eleições e isso nunca foi condição para que o político perdesse seu carisma e o respeito de aliados e adversários. O povo goiano sempre teve uma relação de amor e carinho com Iris Rezende, o que ele explicava como sendo “uma coisa de Deus”.
O sucesso do seu quarto mandato como prefeito de Goiânia consolidou a marca de exímio gestor, acostumado a levantar gestões quebradas e de maior tocador de obras de que se tem notícias na política goiana. Depois de assumir uma gestão comprometida por rombos que beiravam R$ 1 bilhão, déficit mensal de R$ 31 milhões e outros graves problemas administrativos, o decano emedebista deu mais um show de competência administrativa. Reequilibrou as contas públicas e lançou o maior volume de obras e investimentos que a capital já havia experimentado até então. Cerca de R$ 1 bilhão foram investidos em obras de mobilidade, de educação, saúde e tecnologia nos quatro anos da sua última gestão.
Vitimado pelas consequências de um acidente vascular cerebral hemorrágico, Iris faleceu em 9 de novembro de 2021, depois de 90 dias internado, e encerrou sua vitoriosa carreira política celebrado por tudo que conseguiu fazer em 62 anos de vida pública, sobretudo pelos cenários adversos que enfrentou ao longo dessa caminhada. Sua dedicação e responsabilidade na condução das políticas e ações que garantiram o desenvolvimento de Goiás, de Goiânia e a melhoria das condições de vida do seu povo o legitimam como merecedor de todas as honrarias e reverências.
Iris Rezende partiu dessa vida como o maior de todos os goianos, uma celebridade das massas. O homem que dedicou a vida para cuidar do seu povo e construir Goiânia deixou um legado sem precedentes, que alcançou e alcançará gerações. Iris é uma história, sobretudo de amor e carinho de um político pelo seu povo, que o tempo não vai parar de contar.
