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Política

Movimento radical bolsonarista tem traços de seita, avalia Christian Dunker, psicanalista e professor da USP

Christian Dunker, psicanalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), analisa o estado permanente de “guerra” de apoiadores de Jair Bolsonaro e avalia que esse fenômeno é típico de uma seita, assim entendido a organização de um grupo contra um meio que considera hostil ou descrente, no caso dos bolsonaristas, a “esquerda comunista”

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Bolsonaristas católicos mais radicais rezaram e fizeram jejum parcial ou total visando a vitória de Jair Bolsonaro (PL), o que não aconteceu

O psicanalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Christian Dunker, avalia que o movimento mais radical bolsonarista, que insiste na narrativa golpista contra a democracia brasileira e contra qualquer discurso progressista, tem claros traços de seita, assim entendido a organização de um grupo contra um meio que considera hostil ou descrente, no caso dos bolsonaristas, a “esquerda comunista”.

De acordo com o sociólogo inglês Roy Wallis, “seitas estabelecem uma reivindicação de possuir acesso exclusivo e privilegiado à verdade ou à salvação, e seus adeptos comprometidos normalmente consideram todos aqueles que estão fora dos limites da coletividade como “um erro”.

Desde a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições do último dia 30 de outubro, apoiadores do “mito”, como eles costumam nominar o ex-presidente, decidiram acampar em frente a quartéis em várias cidades brasileiras, se unindo em corrente de “orações” e pedidos inusitados até mesmo a extraterrestres para que não se permitisse a posse do presidente eleito, Luiz Inácio de Lula.

Para o professor da USP, esse fenômeno é típico de seitas e a imagem de um bolsonarista agarrado a um caminhão por quilômetros tentando deter seu avanço reflete a “alegoria” que o Brasil viveu sob o governo de Bolsonaro. Dunker diz que a medida que o esperado por essas pessoas não acontece, como foi o caso da própria derrota de Bolsonaro e, mais recentemente, a posse do presidente Lula, o que prevalece é o lado mais distorcivo do delírio coletivo, como, por exemplo, acampar em frente aos quartéis, orar para pneus, pedir ajuda a seres de outros planetas, para que aquela “verdade” que eles acreditam seja restabelecida.

Segundo o professor, esse quadro prossegue porque, nesse tipo de movimento sectário, as pessoas vivem num quadro de “loucura coletiva”, onde se tem a figura do irradiador do delírio, que é a figura central idolatrada, que consegue envolver uma gama de seguidores muitas vezes composta por pessoas com uma certa limitação cognitiva, ou mesmo pessoas sem conhecimento aprofundado das questões políticas do país.

Para desfazer esse processo de seita em que está envolvido grande parte dos bolsonaristas, Christian Dunker diz que é preciso afastar essas pessoas do meio em que estão vivendo e evitar que chegue a elas informações distorcidas, de narrativas mentirosas que possam continuar alimentando o seu delírio.

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