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Política

Iris Rezende Machado: dois anos de saudades

Ex-governador de Goiás por dois mandatos e ex-prefeito de Goiânia por quatro vezes, o emedebista morreu no dia 9 de novembro de 2021, vítima das consequências de um AVCH sofrido cerca de três meses antes. Deixou um vasto legado político e de obras que se confunde com a história da capital

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Iris Rezende foi prefeito de Goiânia por quatro mandatos e governador do Estado por duas vezes, além de senador, ministro da Justiça e da Agricultura

Havia pouco mais de sete meses que Iris Rezende tinha deixado aquele que dizia ser o seu último cargo da sua longeva vida pública, que já durava 62 anos de serviços prestados ao povo goiano, em especial aos goianienses. Naquela manhã de 6 de agosto, o ex-prefeito de Goiânia cumpria mais um dia da sua agora agenda sem pauta definida, recebendo amigos no seu escritório na Avenida T-9, espaço que se tornou referência da política goiana. Depois de sentir uma forte dor de cabeça, Iris foi levado ao hospital Neurológico, em Goiânia, pelas filhas Adriana, que é médica, e Ana Paula Rezende, sua fiel escudeira, que se notabilizou pela presença marcante ao lado do pai em suas últimas administrações. O diagnóstico foi de AVCH, e, no mesmo dia, Iris foi operado.

Depois de 30 dias internado em Goiânia, Iris Rezende foi levado para o Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde continuou o tratamento. Seu estado de saúde evoluiu bem e, por algumas vezes, chegou-se a cogitar a alta hospitalar, o que, entretanto, nunca ocorreu. 94 dias depois da primeira internação, no dia 9 de novembro de 2021, prestes a completar 88 anos de idade, o homem que mudou a vida de milhares de pessoas em Goiás e que transformou a estrutura da capital Goiânia deixou essa vida para, definitivamente, entrar para a história política do estado como um dos seus maiores expoentes de todos os tempos.

Recentemente, num relato emocionado, Ana Paula contou que cinco dias antes do seu falecimento no leito do hospital Vila Nova Star, Iris Rezende passou praticamente toda noite orando e pedindo a Deus para que protegesse Goiânia e seu povo.

“Naquele dia, acho que uma semana ou cinco dias antes da morte do meu pai, quando eu cheguei ao hospital – ele estava num quarto onde a gente podia ficar durante o dia, mas não podíamos dormir -, uma das três enfermeiras que contratamos para ficar ao lado dele 24 horas por dia saiu chorando do quarto, e eu, preocupada, perguntei se meu pai havia piorado. Aí ela respondeu, “não, Ana Paula, não é isso não. Ele passou a noite toda acordado e passou a noite inteira orando por Goiânia, para que Deus protegesse a cidade e seus moradores”, relatou, explicando que aquele choro da enfermeira era todo pela emoção que ela sentiu ao presenciar a atitude do ex-prefeito.

Iris foi sepultado no cemitério Santana, em Goiânia, e seu funeral recebeu todas as honras de estado, uma deferência prestada pelo governador Ronaldo Caiado àquele que considerava um grande amigo e conselheiro. Ao chegar em Goiânia, o corpo de Iris percorreu, em carro aberto, as principais ruas da cidade que ele ajudou a construir. Uma multidão de goianos passou pelo velório, realizado no Salão Dona Gercina Borges do Palácio das Esmeraldas, residência oficial do Governo de Goiás.

História

Natural de Cristianópolis, cidade a 90 km de Goiânia, Iris Rezende nasceu no mesmo ano da fundação de Goiânia, em 1933. Para Ana Paula, isso não é coincidência, mas um “carinho de Deus” a ele e aos goianienses. “A mãozona de Deus mesmo, como meu pai dizia, no destino da nossa capital e de seu mais icônico gestor. Assim como podemos sentir em todo canto da nossa cidade querida, a mãozona de um Iris que vive nas grandes e nas pequenas conquistas dos goianienses”, escreve.

Iris chegou em Goiânia aos 15 anos. Veio estudar, como ele próprio costumava contar. Iniciou sua carreira política nos grêmios estudantis do Lyceu de Goiânia e da Escola Técnica de Campinas. Em 1958, foi eleito o vereador mais bem votado da capital e assumiu a presidência da Câmara Municipal. Em 1962 foi eleito deputado e em 1965 prefeito de Goiânia pela primeira vez. Cassado em 1969 por força do Ato Institucional nº 5, editado um ano antes pelo presidente militar Arthur da Costa e Silva, Iris teve seus direitos políticos suspensos por 10 anos, mas voltou em 1982, após a anistia, para vencer as eleições daquele ano para governador do Estado, numa das mais emocionantes campanhas eleitorais já vistas em Goiás.

Iris foi também ministro da Justiça e da Agricultura. Governou o estado por dois mandatos, foi senador da República e eleito prefeito por mais três vezes: em 2004, 2008 e 2016. Deixou a vida pública, mas não a política, ao final de 2020, celebrado pela excelente gestão à frente do executivo municipal. Ele foi casado com Dona Íris de Araújo, ex-deputada federal, por 57 anos e tiveram três filhos.

O político que transformou Goiás e sua capital Goiânia partiu para a eternidade celebrado por tudo que conseguiu fazer nos 62 anos de vida pública, sobretudo pelos cenários adversos que enfrentou ao longo dessa caminhada. Sua dedicação e responsabilidade na condução das políticas e ações que garantiram o desenvolvimento de Goiás, de Goiânia e a melhoria das condições de vida do seu povo o legitimam como merecedor de todas as honrarias e reverências. Por tudo isso, Iris é a história que o tempo não vai parar de contar.

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