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Artigo de Opinião

Bolsonaro foi derrotado pela segunda vez. Não tem sentido almejar seu espólio político, cuja tendência é a desidratação

Inelegível até 2030, Jair Bolsonaro, único presidente da República que não conseguiu se reeleger, desde que foi inaugurado no Brasil o instituto da reeleição, em 1998, reivindica para si um valor político que a realidade mostra que não tem. Depois de quatro anos de puro desastre, é bem provável que o bolsonarismo se desidrate muito rapidamente, abrindo caminho para a direita racional, esta sim uma ideologia que faz parte do espectro político

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Jair Bolsonaro está inelegível até 2030, segundo decisão do TSE

Na última sexta-feira (30/06), o Tribunal Superior Eleitoral impôs a Jair Bolsonaro a segunda fragorosa derrota em menos de um ano. Em outubro do ano passado, o mito, como convencionou ser chamado pela patuleia que o adora como tal, foi derrotado nas urnas pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu, pela terceira vez, o posto de presidente do Brasil. Bolsonaro é o único presidente do Brasil que não conseguiu se reeleger, desde que começou a ser permitido o instituto da reeleição, em 1998. Agora, pelos crimes praticados no curso das eleições gerais de 2022, o ex-presidente foi condenado pelo pleno do TSE à inelegibilidade por oito anos, estando, portanto, impossibilitado juridicamente de concorrer a qualquer cargo eletivo até 2030.

Tão logo proclamado o resultado do julgamento no TSE, a imprensa especializada começou a especular sobre qual seria o nome para, na ausência de Bolsonaro, liderar o bolsonarismo no Brasil. Erro crasso, analistas e jornalistas insistem em chamar de direita o movimento liderado pelo ex-deputado do baixo clero, cujas bandeiras muito mais se aproximam do fascismo do que de qualquer outra ideologia política.

Bolsonaro é um derrotado e é muito pouco provável que qualquer liderança política que tenha uma história, uma biografia, um currículo a defender, ainda que de espectro político de direita, queira brigar pelo espólio político de Jair Bolsonaro, consequentemente, pelo bolsonarismo. Desde sua derrota nas urnas, alas da direita racional entenderam que foi um erro alinhavar apoio ao bolsonarismo, corrente que acabou por conspurcar a ideologia, jogando-a no mesmo balaio da extrema-direita, que, entendem algumas correntes filosóficas políticas, nada, ou muito pouco, tem a ver uma com a outra.

Com a inelegibilidade de Bolsonaro, a direita racional já percebe que os princípios ideológicos defendidos ao longo da história não estão concatenados com o bolsonarismo, não havendo, portanto, sentido algum em manter proximidade com esse movimento que carrega tendências ultraconservadoras, autoritárias, nacionalistas extremas e supremacistas.

E essa percepção encontra lastro na última pesquisa divulgada pelo instituto Locomotiva e Ideia Instituto de Pesquisa, que apontou que a maioria do eleitorado brasileiro mais à direita do espectro político está disposta a abandonar o radicalismo bolsonarista e caminhar ao lado de uma nova liderança da direita que reúna o equilíbrio necessário para tocar as políticas públicas que o país tanto demanda.

De acordo com o estudo, 54% dos eleitores que votaram em Bolsonaro no ano passado disseram que estão dispostos a apoiar uma nova liderança da direita, mesmo que esse nome não tenha o apoio do ex-presidente. Apenas 18% dos bolsonaristas, coisa de 9% do eleitorado total, não enxergam ninguém além de Bolsonaro para liderar a direita.

Vê-se, portanto, que a inelegibilidade de Bolsonaro pode, com mais rapidez e força, relegar o ex-presidente ao ostracismo, senão totalmente, com pouca força para influenciar o eleitorado brasileiro numa eleição majoritária ou para assumir posição de destaque nas discussões macro para o país. Com a direita racional reassumindo sua posição, muito pouco restará para a extrema-direita de Bolsonaro e seus séquitos.

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