Entre em contato

Artigo de Opinião

“A cadela do fascismo está sempre no cio”. O bolsonarismo não vai desistir do golpe

A frase cunhada por Bertoldt Brecht, um dramaturgo e poeta alemão, exprime a ideia de que o fascismo, uma ideologia política ultranacionalista e autoritária, caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade e da economia, embora absolutamente deletéria, encontra no imaginário coletivo muitos defensores de seus ideais, tal como acontece no Brasil com o bolsonarismo

Publicado

on

Golpistas apoiadores de Jair Bolsonaro invadem os prédios dos Três Poderes, em Brasília

A ascensão de Jair Bolsonaro ao poder em 2018, um medíocre deputado do baixo clero do Congresso Nacional que ali praticou suas rachadinhas por longos 28 anos, foi possível graças a um movimento de desconstrução da política e dos políticos em geral, iniciado anos antes pelo lavajatismo de Sérgio Moro e companhia. A criminalização da política e as operações para prender Lula e liquidar o PT levaram o boquirroto à presidência e inaugurou ali o mais delinquente dos movimentos populares de que já se tem notícias no Brasil, o bolsonarismo.

Jair Bolsonaro não escondeu suas tendências fascistas, se apossou do discurso barato do conservadorismo tosco que encontrou eco junto a uma “patuléia, cuja existência carecia até então de algum significado útil”, para disseminar o ódio e os seus ideais supremacistas. Para o promotor de justiça de Goiás, Paulo Brondi, em artigo publicado na internet, essa “gentalha ressentida, apodrecida, sem voz, encontrou em Jair Bolsonaro o seu representante perfeito”. E isso fez com que o Brasil fosse tomado por uma corrente negacionista e violenta. Através das redes sociais, a turba bolsonarista inaugurou um movimento revisionista e de imposição de uma leitura absolutamente ignóbil da história e dos valores humanos.

As instituições brasileiras passaram a ser atacadas diuturnamente. A negação da arte, da cultura, dos direitos humanos e da justiça se consolidou no discurso sofismático de um líder caricato, porém com altíssimo índice de aprovação pelos seus séquitos. O movimento bolsonarista virou seita. A desconstrução das mentiras, das falácias, dos sofismas deixou de ser possível, e a palavra do líder tomou forma de dogma.

Desde que assumiu o poder, Jair Bolsonaro iniciou um movimento golpista e de ataques às instituições democráticas. Ameaças de ruptura foram manifestadas sem nenhum pudor em vários eventos públicos. Quebradeiras foram promovidas, como ataques com fogos à sede do Supremo Tribunal Federal, em 2020. Receoso de que perderia as eleições de 2022, Bolsonaro iniciou, ainda em 2021, violentos ataques ao sistema eleitoral brasileiro, ameaçou não respeitar o resultado das urnas, mentiu para embaixadores do mundo todo sobre fraudes que nunca provou e conclamou seus adoradores para o enfrentamento.

Em 2022, sem apoio para tentar o golpe pela força, Bolsonaro usou as instituições para fraudar o pleito de 2022. Usou sua força no Congresso para aprovar um suposto estado de emergência para criar novos benefícios sociais, distribuiu dinheiro para os mais vulneráveis e gastou cerca de R$ 41 bilhões com políticas absolutamente eleitoreiras. No dia da eleição, escalou a Polícia Rodoviária Federal para impedir que eleitores do petista Lula chegassem às seções eleitorais no Nordeste. Mas não teve jeito. Bolsonaro perdeu a eleição.

Derrotado, o então presidente silenciou-se e não reconheceu a vitória do atual presidente, como normalmente acontece nas democracias. A reclusão de Bolsonaro soou como a senha para que seus adoradores iniciassem movimentos de hostilidade à democracia, como bloqueio de rodovias e acampamentos em frente a quartéis, tudo no desejo insano de evitar que o presidente legitimamente eleito tomasse posse.

Bolsonaro saiu derrotado, mas o bolsonarismo não. Os principais extremistas e radicais apoiadores do capitão foram eleitos para o Congresso. Enquanto Bolsonaro fugia para o exterior tentando levar mais de R$ 16 milhões em joias da presidência, seus séquitos aqui permaneceram gestando o golpe final, que aconteceu em 8 de janeiro de 2023, quando, ensandecidos e patrocinados pela quadrilha bolsonarista, marcharam para tomar os prédios dos Três Poderes em Brasília. As cenas de quebradeira, vistas pelo mundo inteiro, foram o mais dantesco episódio contra as instituições democráticas brasileiras de que se tem notícias.

A intentona foi debelada pelas autoridades democráticas do Brasil. Governador foi afastado, ex-ministro da Justiça foi preso, militares da Polícia Militar do DF e do Exército Brasileiro também. Mais de 1,2 mil golpistas foram presos e estão sendo processados. Surpreendentemente, os bolsonaristas que foram eleitos, valendo-se daquele discurso de ódio e de negação do óbvio, agora tentam inverter os fatos e culpar o governo que foi golpeado pelo golpe. Qualquer homem médio entende o quão surreal é essa tentativa canalha do bolsonarismo, mas, infelizmente, essa estupidez encontra eco naqueles imbecis cooptados pelo discurso fácil do bolsofasicmo.

Como disse Bertold Brecht, “a cadela do fascismo está sempre no cio”. O bolsonarismo não vai desistir do golpe, porque a sua intenção é implantar no Brasil aquilo que Mussolini sonhou para a Itália. O desprezo à vida, à verdade e aos direitos humanos é a política que move o bolsonarismo. A ideia do supremacismo sempre esteve presente nos discursos inflamados do líder que negou a ciência, que criminalizou a cultura e o ensino, e que tem como um dos seus maiores ídolos o maior dos torturadores da história do Brasil.

Quanto à tentativa dos bolsonaristas de inverterem a responsabilidade pelos atos de 8 de janeiro, de bom alvitre as palavras do ministro da Justiça do Governo Lula, Flávio Dino: “Há uma tentativa política, deletéria, nociva, de amigo de terrorista, de protetor de terrorista, de aliado de terrorista, de financiador de terrorista, de criar elementos que embaracem o que ocorre desde o dia 8 de janeiro: a aplicação da lei”.

Copyright © 2020 - Nos Opinando - Liberdade de opinião em primeiro lugar.