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Artigo de Opinião

Dona Íris de Araújo foi uma grande amiga, de quem sempre lembrarei com muito carinho e respeito

“Dona Íris foi uma amiga leal, de personalidade marcante, correta, intransigente a tudo que considerava injusto e errado, e extremamente fiel aos seus princípios. Alcançou o seu próprio protagonismo e contribuiu imensamente para que o marido, Iris Rezende Machado, tivesse o seu na política goiana e nacional”

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Dona Íris de Araújo: *07/05/1943; +21/02/2023

Como a grande maioria dos goianos, fui, e sempre serei, um grande admirador do casal Iris Rezende e Íris de Araújo. Aquela inesquecível campanha de 1982, que marcou a volta triunfal de Iris e a ascensão do maior líder político de Goiás, jogou luz também sobre Dona Íris de Araújo, a fiel companheira do carismático Iris Rezende. Dali em diante, a minha admiração por eles cresceu. O mutirão das mil casas, o famoso comício das Diretas Já, as administrações voltadas para os mais pobres, o cuidado com a assistência social, tudo isso elevou Dona Íris a um protagonismo de tamanho e importância compatíveis com o do marido.

Em 2006, tive a oportunidade e o prazer de dar a Dona Íris, pela primeira vez, o meu voto para deputada federal, e ela foi eleita a deputada mais bem votada da história de Goiás até então: 201 mil votos. Não obstante a dimensão do seu protagonismo político em Goiás, quero aqui prestar uma singela homenagem à amiga que nos deixou na última terça-feira (21/02).

Minha amizade com Dona Íris nasceu no Twitter, rede social que a ex-deputada dominava muito bem, a ponto de ser uma das políticas goianas mais influentes do microblog. Sua sinceridade, sua visão apurada da política, a coragem de abordar os fatos, a autenticidade e o cuidado com a verdade foram qualidades que a legitimaram para o debate franco e aberto. A partir de 2009, passamos a dividir nossas impressões sobre a política local e nacional na rede social. Nasceu ali, naturalmente, um respeito mútuo, movido pela consideração que nos dispensávamos.

Em 2012, tive o primeiro encontro com Dona Íris, foi lá no seu escritório, na Avenida T-9. Parecia que éramos amigos há muitos anos, e de fato éramos. A conversa fluiu tão espontaneamente que o seu assessor precisou nos interromper, haja vista os compromissos que a aguardavam. Desde então, nossa amizade foi crescendo, e eu tive o imenso prazer de poder contar com a sua confiança e sua consideração. Minha admiração pela deputada e ex-primeira dama de Goiás e de Goiânia encontrou lastro na amizade real que mantivemos até os últimos dias da sua vida.

Dona Íris foi, sobretudo, generosa comigo. Ela me dispensava uma deferência ímpar, e eu sentia nos seus gestos e palavras toda essa generosidade para com a minha pessoa, como foi quando ela me apresentou ao prefeito Iris Rezende, em pleno Mutirão da Prefeitura, na região Leste. Em meio a uma multidão de pessoas, políticos e autoridades, Dona Íris me chama, toma a palavra, e diz ao prefeito: “Oh Iris, esse aqui é o Cloves, que eu te falei”. Foi uma emoção indescritível, porque ali estavam duas pessoas pelas quais nutria grande respeito e admiração, desde a minha adolescência. Tenho plena consciência de que aquele foi um ato de generosidade da Dona Íris. Ela queria dizer a todos que éramos amigos e que eu tinha a sua confiança.

Com sua amizade sincera e leal, Dona Íris me incentivou e me apoiou nas minhas lutas solitárias contra o poderio político da época. Era uma leitora assídua do meu blog, gostava dos meus textos, me elogiava enquanto tuiteiro e me agradecia constantemente pelas defesas enfáticas que eu fazia da gestão do prefeito Iris Rezende, a qual tive o prazer de servir a convite dela própria. Dona Íris foi uma amiga leal, de personalidade marcante, correta, intransigente a tudo que considerava injusto e errado, e extremamente fiel aos seus princípios. Alcançou o seu próprio protagonismo e contribuiu imensamente para que o marido, Iris Rezende Machado, tivesse o seu na política goiana e nacional.

Meu último contato com Dona Íris foi em 28 de janeiro deste ano, exatos 24 dias antes dela retornar à pátria espiritual. Numa mensagem de pouco mais de um minuto, minha amiga querida respondia ao meu questionamento sobre de como ela estava se sentindo. Com uma voz suave, Dona Íris me disse que “estava bem melhor”, mas dizia ter consciência de que o caminho para a recuperação plena era longo. “Felizmente, devagarzinho, muito devagar, passo a passo, tô indo. Mas tô bem, emocionalmente eu tô bem, acompanhando os fatos políticos, só não consigo comentar, porque estou com dificuldades para digitar”, explicou, e, em mais uma demonstração de amizade e generosidade, me disse que eu era um “tuiteiro muito importante”, e terminou lembrando que nós sempre estivemos do lado do que é certo.

Sua partida deixa um vazio enorme no meu coração, mas conforta-me a certeza de que pude dizer a ela, várias vezes, o quanto a admirava e o quão me honrava a sua amizade. A certeza de que também honrei toda deferência que ela me dispensou tranquiliza minha alma. Além da saudade, minha gratidão a Dona Íris será eterna, assim como será a toda sua família. Tal como Iris Rezende, Dona Íris de Araújo também é uma história que o tempo não vai parar de contar.

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